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quinta-feira, 6 de junho de 2019

Crítico da velha política, NOVO pratica o que atacou na eleição

Na campanha eleitoral, sobravam ataques ao mau uso de dinheiro público. Agora, com mandato, deputados do Novo têm repetido velhos hábitos da política tradicional.


Folhapress

O uso de auxílio-moradia, demonizado nas propagandas partidárias, atraiu pelo menos um parlamentar. Os excessivos gastos com passagens aéreas chegaram à bancada e se estendem a assessores.

O deputado federal Lucas Gonzalez é o líder de despesas com a cota parlamentar dentro da bancada do Novo. Foto: Reprodução/Facebook (Foto: Reprodução/Facebook)
O deputado federal Lucas Gonzalez é o líder de despesas com a cota parlamentar dentro da bancada do Novo. Foto: Reprodução/Facebook

Em maio, na comissão do Orçamento, o deputado federal Lucas Gonzalez, de MG, perguntou ao ministro Paulo Guedes (Economia) o que os parlamentares deveriam fazer para dar exemplo e se responsabilizar pelos gastos em seus gabinetes na Câmara.

Líder de despesas com a cota parlamentar dentro da bancada do Novo, Gonzalez tem em sua prestação de contas a compra de bilhetes aéreos para uma assessora, que ainda usou transporte por aplicativo pago pela Câmara, num domingo, para ir a shopping.

Cada deputado tem direito a uma cota para cobrir custos com passagens de avião, transporte terrestre, combustíveis, divulgação da atividade parlamentar e consultorias, entre outros. O valor varia conforme o estado do parlamentar.

Em média, Gonzalez gastou R$ 18 mil por mês – próximo à média de bancadas de partidos mais antigos na Câmara. Os 27 deputados do DEM tiveram despesa média de R$ 20 mil no período - muitos usaram bem menos da cota. O gasto médio no PP foi de R$ 23 mil.

"Auxílio-moradia, combustível e paletó não têm espaço em um governo Novo. A gente entende que dinheiro público deve ser usado em benefício do cidadão, não para sustentar mordomias e privilégios de políticos e funcionários públicos de alto escalão", disse, na campanha eleitoral, o então candidato à Presidência pelo partido, João Amoêdo.

Alexis Fonteyne (SP), eleito deputado federal pelo Novo, não abriu mão da ajuda de custo para moradia, financiada com dinheiro público. Foi o único a fazer isso no partido.

"No processo seletivo [para ser candidato do Novo], fui perguntado se estava disposto a abrir mão dos privilégios e falei que com certeza. Vou pegar passagens aéreas porque minha família mora em Campinas. Eu quero voltar e ver minha família. E também porque eu não tenho casa em Brasília", disse Fonteyne, em vídeo para prestar contas.

Em três meses de legislatura, ele gastou R$ 28 mil em bilhetes aéreos, até para assessores. Para uma mesma corrida com aplicativos de transporte, o deputado do Novo pediu reembolso à Câmara duas vezes: uma com gorjeta ao motorista e outra sem. Em fevereiro, cinco corridas viraram dez. Custo extra de R$ 200.

"Temos que olhar a grande fotografia, senão a gente estabelece dentro do partido uma Gestapo", comentou em maio.

Integrante do conselho de ética da Câmara, Gilson Marques (SC) gastou R$ 800 mensais na assinatura de publicações da "Gazeta da Tarde", da Paraíba. O dono é um estudante que escreve para o site Portal Libertarianismo, com ideias alinhadas à do partido.

Em março e abril, o pagamento foi feito com duas notas fiscais diferentes, mas emitidas no mesmo dia e com diferença de nove minutos entre elas. No documento, o serviço prestado pela Gazeta foi de assessoria ou consultoria.

Em média, cada deputado do Novo gastou R$ 7.300 por mês. É valor abaixo do registrado pelos demais partidos da Câmara. A análise das despesas, porém, mostra que, nos gabinetes, a prática é diferente do pregado nas eleições.

O salário de deputado é R$ 33,7 mil. A remuneração de assessor pode chegar a R$ 15 mil. O auxílio-moradia é de até R$ 4.200 e não entra na cota.

A reportagem procurou os cinco deputados do Novo com gastos que divergem da fala do partido. Três responderam.

Lucas Gonzalez diz não ver os "gastos indicados como privilégios, e sim como uso da cota nos limites da lei e do partido". Sobre as despesas da assessora, diz que ela usa o aplicativo quando ambos precisam. "Até com o meu cartão, e tem total liberdade para usar em nossas agendas, reuniões e compromissos desde respeitado o limite de gastos."

Os valores elevados são atribuídos ao fato de a assessora ter se mudado para Brasília e residido no Gama, cidade-satélite do DF. Gonzalez não se manifestou sobre o reembolso do gasto para ela ir ao shopping. "Quanto às passagens, a soma indicada pela Câmara agrega valores de passagens já voadas e outras futuras."

Já Vinicius Poit (SP) diz que só suas passagens aéreas são reembolsadas, mas não as dos assessores. "Prezamos pela compra das passagens nas tarifas mais baratas, por respeito ao dinheiro público."

Gilson Marques diz que os gastos com a "Gazeta da Tarde" referem-se a "serviços prestados de produção de conteúdo para o gabinete, desde o início do mandato." E que as duas notas referem-se a serviços prestados em fevereiro e março.

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