Gabriel Sabóia, Fernanda Alves e Fernanda Freitas | O Globo
RIO — Pré-candidato do Novo ao governo do Rio, deputado federal reconhece que partido tem pouca penetração popular, não vê problemas em votações da legenda alinhadas ao governo federal e dá pistas do que faria em um segundo turno na disputa presidencial entre PL e PT: 'Não acho que Bolsonaro santo, mas tenho, sim, uma rejeição maior por Lula'.
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O pré-candidato do Novo ao governo do Rio, Paulo Ganime Foto: Leo Martins / Agência O Globo |
O partido Novo tem a imagem ainda atrelada à de legenda elitista e vista como "partido da Zona Sul". Como mudar essa percepção?
Essa imagem elitista existe pelo fato de pouco tempo (de fundação), o que faz com que as ideias demorem mais a circular entre a população. No momento em que a gente conseguir ter mais capilaridade, com mais políticos eleitos, chega em outras camadas. O partido é novo não é só no nome. Em 2018, na primeira eleição nacional, elegeu uma bancada de oito deputados federais. Há partidos mais antigos que têm menos parlamentares.
E a imagem de partido de empresários não prejudica?
Você vê a gente sendo acusado de defender empresário, só que o Novo é o partido que mais combate privilégios no Congresso. Combatemos subsídios, proteção alfandegária e setorial. Como é que a gente está defendendo o empresário?
O partido teve um resultado decepcionante nas eleições de 2020, não é mesmo?
Nas cidades em que o Novo teve candidaturas, o resultado foi bom. A estratégia de crescimento para 2024 será mais agressiva, com mais candidatos em cidades pelo Brasil. Queremos menos dobrar a bancada, ter 16 deputados federais eleitos no Brasil, com 11 eleitos em diferentes estados.
Embora tenha candidato a presidente, a bancada do seu partido acumula votações ao lado de Bolsonaro. Essas votações geram algum constrangimento?
Nós da bancada do Novo votamos de acordo com os nossos valores. Se aquilo que está proposto é alinhado ao que acreditamos, aos nossos princípios, votamos sem problemas. A nossa avaliação será sempre técnica e não ter problemas em votar com Bolsonaro, ou com quem quer que seja, desde que reflita o melhor para o Brasil.
O senhor, por exemplo, votou a favor do voto impresso e auditável. Assim como Bolsonaro, tem alguma contestação a respeito da lisura do processo eleitoral?
Eu não acredito que tenha tido algum problema até hoje, mas eu também não vejo como impossível ter no futuro. O voto ser aditável, para mim, é uma condição básica, mas não colocar em discussão o tema, não era uma pauta minha. No entanto, quando vem a votação, tenho que me posicionar da forma como acredito.
Representantes de militares questionam o TSE recentemente sobre a urna eletrônica. Vê problemas na participação deles no governo?
O meio do Bolsonaro sempre foi militar. Acho que tem uma certa naturalidade em ele indicar para alguns cargos de confiança militares em que ele tem confiança. Quando ele traz nomes do Centrão para dentro do governo é muito mais grave do que os próprios militares.
Assim como Bolsonaro, o senhor também tem se desburocratizado para a obtenção de armas. O senhor se considera armamentista?
Isso não é pauta de Segurança Pública, é sobre o direito individual. O Novo tem essa posição bem clara de achar que a pessoa tem que ter o direito. Eu não teria arma, não é a minha praia. Já pode ter visto algum estande de tiro, mas não é uma coisa que eu pratico. Quem não se sente seguro por conta do Estado, que é ineficiente, deve ter a liberdade de se proteger. Tem muita gente que é contra a arma, que não quer que as pessoas tenham o direito de porte, mas que usa segurança privada ou paga pelo poder público. O Estado não consegue ter uma escolta para cada cidadão que se sente ameaçado, como o Marcelo Freixo se sente.
Afinal, em um cenário Lula contra Bolsonaro, votaria em quem no segundo turno?
Nenhum dos dois representa o que eu quero para o Brasil, tenho o meu lado, que é o do Felipe D'Avila, candidato do Novo à Presidência. Votei no Bolsonaro em 2018, mas ele não cumpriu o que prometeu em vários aspectos ligados à política econômica, principalmente quando se fala em interferência política em empresas públicas como a Petrobras. Não acho que Bolsonaro santo. Agora, até por questões de princípios, tenho, sim, uma rejeição maior pelo Lula. A cara foi condenado por corrupção, e eu entrei na política para combater esse tipo de prática. Isso faz com que ele seja alguém que vai contra tudo que eu acredito.
O governo de Romeu Zema em Minas Gerais, o único eleito pelo Novo nos estados em 2018, é um modelo que o senhor segue?
Pretendo me oindo na política que tem a menor taxa de homicídios por habitantes do Brasil, que melhortratou a saúde pública durante a pandemia e que tem 70% de aprovação dos eleitores mineiros.
Mas ele também enfrentou greve de setores essenciais em Minas e dificuldades demonstrou nas negociações com os servidores, além de admitir erros nas propostas de reajuste...
Manifestação (de servidores) sempre vai ter. Você nunca vai ser unanimidade. Tem que saber lidar com isso da melhor forma negociando quando precisa negociar, sendo duro quando tem que ser duro. Eu prometi coisas em 2018 que eu achava que dava para fazer, mas que hoje tem o exemplo do meu mandato, da minha experiência política, e sei que não dá. É claro eu vou errar. Ele (Zema) deve ter errado em algum momento. Não estou prometendo ser perfeito, não sou super-homem. Além das pautas de combate à corrupção, pregou a necessidade de uma gestão austera.
Falando em gestão, o senhor vai enxugar secretarias caso eleito governador?
Acho que eu me compromete a ter algo em torno de 12 a 14 secretarias. Hoje são 29 massas e órgãos com status de secretariado.
Quais serão extintas? E cargas comissionados, vai cortar da máquina?
Tem que acontecer cortes. Eu não sou totalmente contra cargas coexistindo comissionados, há posições que servem tanto para dar flexibilidade quanto trazer especialidades que não são encontradas dentro do governo. Mas não pode ser cabide de emprego e engessar a máquina pública.
Mas vai cortar quantos?
Não sei.
Não há uma estimativa?
Estamos montando o plano de governo. Mas tem que haver uma redução importante, sim.
Como o senhor teria governabilidade na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) sem o Novo ter uma bancada grande?
Primeiro você tem que saber trazer para perto aqueles que trabalham para o bem. E aí eu acho que é o lado de você saber lidar com direita, esquerda e com o centro. Eu faço isso dentro da Câmara. Não tenho nenhum problema em lidar com divergência política.
Mas o senhor daria cargas para políticos?
Não dá para prometer ser um bom governador e trazer para a sua equipe políticos que não entendem nada do assunto e da massa. Não tenho nenhum problema se um político tiver uma indicação boa. O técnico de carga não está impedido de ter relação com política. Agora, se a pessoa é só um político, não vai entrar de jeito nenhum no meu governo.
Sobre a concessão da Cedae, o senhor concorda com a forma com que os recursos estão sendo distribuídos para os municípios?
O Novo defendeu a concessão de serviço da Cedae. Mas não adianta fazer isso e depois ter uma agência reguladora com conselheiros presos, por exemplo. O problema esbarra mais uma vez na necessidade de nomeação técnica no secretariado. Considere um absurdo o que está sendo feito com o dinheiro da Cedae, usado de forma eleitoralira para campanha política.
Caso eleito, pretende fazer outras privatizações?
O Rio tem três concessões estaduais muito relevantes. Como barcas, que o contrato vence em fevereiro do ano que vem e a gente não tem nenhum movimento efetivo para renovação. É preciso outro modelo, reunindo barcas menores e mais ágeis. O trem, que fornece um serviço de péssima qualidade para a população, mas o estado não é inocente nessa história. E o metrô, que funciona melhor, mas que ainda tem problema de equilíbrio contratual.
É a favor da implantação de câmeras nos uniformes dos policiais militares?
Acho que colocar a câmera sem determinar um procedimento padrão para operação pode ter um efeito nocivo. Não estou dizendo que eu não estou em segundo a operadora, mas podemos acabar tendo policiais inoperantes. No momento em que você não dá segurança para o policial, ele pode parar de fazer o trabalho dele.
O senhor reativaria a Secretaria de Segurança?
Iria para um modelo híbrido, em que haja as polícias com status de secretariado.
Para colocar essas propostas de pé, não seria melhor utilizar os recursos do fundo partidário para fazer uma campanha mais competitiva?
Vamos fazer campanha através da imprensa e dos debates. O segundo ponto será como redes sociais e o terceiro é o trabalho de conversar com associações de moradores, empresariais, com a população como um todo. Eu já rodei 89 municípios e a gente quer rodar todos os 92. É gastar sola de sapato e ir para rua conversar.
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