Por Sérgio Quintella | Veja São Paulo
Oito anos e três governadores depois do início das obras, o Complexo Hospitalar Cotoxó, na Pompeia, que deveria ter ficado pronto em 2014, é um esqueleto pintado de laranja e cercado de todos os lados por muros azuis de alumínio. O prédio, com 23 000 metros quadrados e cinco andares, vai receber 200 leitos que serão geridos pelo Hospital das Clínicas. O espaço será dividido em três blocos: um para tratamento de doenças relacionadas ao uso de álcool e drogas, outro para assistência a pacientes agudos não críticos, como infartados, além de abrigar cursos de ensino médico de graduação e pós-graduação. O terceiro pavimento será um centro de tecnologia e inovação. O novo prazo de conclusão é o primeiro semestre de 2022, ano da terceira Copa do Mundo subsequente à do prazo de entrega inicial.
Os sucessivos e rotineiros descumprimentos de prazos da unidade chamaram a atenção de pelo menos dois deputados estaduais nas últimas semanas. Arthur do Val (Patriota) e Ricardo Mellão (Novo) estiveram nas obras recentemente e cobraram oficialmente o cumprimento das promessas. “O atraso demonstra não apenas a ineficiência do Executivo, mas também prejudica a população das imediações, que teve de percorrer outros locais longínquos para receber atendimento”, afirma Mellão.
“A gente enfia dinheiro do contribuinte, mas a obra não sai. Essa obra era para estar pronta anos atrás. Aprovei um projeto que prevê a obrigatoriedade de um seguro privado para garantir que saia no preço, no prazo e na qualidade contratados, mas o governador vetou”, queixa-se Do Val, conhecido também como Mamãe Falei. “Isso é uma palhaçada. (O governo) faz uma obra, gasta uma tonelada de dinheiro, não entrega e gasta o dobro, triplo do que foi previsto.” Em nota, a Secretaria da Saúde afirma que o Hospital Auxiliar de Cotoxó (HAC) se encontra em estágio avançado de construção e justifica os sucessivos descumprimentos de prazos por “providências técnicas” e pelo impacto da pandemia.
Enquanto o hospital não fica pronto, moradores e comerciantes do pedaço relatam ansiedade para ver a tão esperada conclusão dos trabalhos. “Eu me lembro bem do lugar antigo. Era uma construção pequena, mas com um muro enorme. Quase não se via a parte interna”, recorda Antonio Bastos, 68, dono de um restaurante na frente. “O espaço, desde que foi construído (em 1971), passou por algumas fases. Primeiro, abrigou pacientes em recuperação do Hospital das Clínicas. Depois, recebeu enfermos terminais. Vejo um pessoal trabalhando, a gente escuta barulho, mas a obra não fica pronta nunca. Uma pena.”
A obra
- Custo inicial: 63,4 milhões de reais
- Custo com aditivos: 77,4 milhões de reais
- Início das obras: março de 2013
- Entrega inicial prevista: junho de 2014
- Novo prazo: primeiro semestre de 2022
Colaborou Vinicius Tamamoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário