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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Esqueçam Harvard. O Brasil deveria se espelhar na Universidade da Califórnia…

Universidade para todos e não apenas para a elite...


Daniel José e Leonardo Siqueira* | O Estado de S.Paulo

A Universidade de São Paulo (USP) é 118.ª melhor universidade do mundo. É o que diz um dos rankings mais conceituados, o QS World University. Em algumas áreas específicas, a USP tem mais destaque ainda. Em Odontologia, a USP é a 20.ª melhor instituição no mundo; Engenharia de Minérios e Minas (33.ª) e Direito (45.ª).

Daniel José e Leonardo Siqueira. FOTOS: CAROL JACOB/ALESP E DIVULGAÇÃO

É um bom resultado, não fosse o fato de que a USP continua servindo apenas a uma elite do País. Metade dos alunos da USP estão entre os 20% mais ricos do país, segundo o questionário socioeconômico da Universidade. 64% vieram de escola particular e 40% possuem mais de um imóvel.

É verdade que nos últimos tempos a Universidade tem se tornado mais inclusiva. Mas, apesar dos recentes avanços, a inclusão nunca será o bastante. Ao menos, não nos moldes como pensamos nosso Ensino Superior.

No Brasil, pensamos que toda Universidade deve ter pesquisas na fronteira do conhecimento. Na ânsia de todos quererem ser Harvard, nosso modelo serve apenas a um pequeno grupo de pessoas. Financiando pesquisas para um pequeno grupo – privilegiados ou não – esquecemos do outro papel do Ensino Superior: o de formar bons profissionais para o mercado de trabalho, ensinar capacidades técnicas e formar professores para ensino básico. Acabamos por não fazer nenhum, nem outro.

Esse problema não é novo, muito menos exclusivo do Brasil. Outros países já passaram por isso. Em 1960, o Estado da Califórnia fez uma enorme transformação em seu sistema de ensino superior. Preocupado em como atender o grande crescimento da população e fornecer mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, a Califórnia dividiu seu sistema de educação superior em três: a Universidade da Califórnia (UC), a Universidade Estadual da Califórnia (CSU, em inglês) e o Sistema de Community Colleges da Califórnia (CCC). Cada um seria responsável por atender a uma diferente demanda da sociedade.

A Universidade da Califórnia receberia os melhores alunos. Espalhados em 10 campus como Berkeley, San Diego, Los Angeles e outros, os 251 mil alunos são uma pequena elite com vocação para pesquisa. Os maiores gênios de cada área estão lá! Uma prova é que a Universidade já teve 62 prêmios Nobeis, mais do que qualquer outra instituição de Ensino Superior no mundo.

A verdade é que a UC não tem a pretensão de atender toda a população! Tampouco isso é desejável. No modelo como foi desenhado, a UC é responsável por um grupo de pessoas que querem ser referências em pesquisa. Dos três sistemas, a Universidade da Califórnia é a única que pode oferecer cursos de Doutorados.

Para formar profissionais para o mercado de trabalho, porém, entra o segundo sistema de ensino superior na Califórnia, a Universidade Estadual da Califórnia. A CSU tem um alcance maior, 478 mil alunos espalhados em 23 campus universitários. Enquanto a UC forma os pesquisadores em Saúde, Tecnologia e Exatas etc, a CSU forma os profissionais que o mercado demanda: tecnologia da informação, engenheiros, programadores etc.

A diferença fica clara quando se analisa o papel do copo docente em cada uma das universidades. Um professor da UC gasta, em média, cerca de 53% do tempo lecionando e 47% em pesquisa. Na CSU, a lógica é outra: 75% do tempo do professor em aulas e 25% em pesquisa.

Com atuação menos direcionada à pesquisa, que consome mais recursos, o custo da mensalidade da CSU é aproximadamente metade do custo da UC. Dado o seu alcance maior e o seu custo menor, o sistema da CSU é conhecido como “A Universidade do Povo”.

O que fazer com o ensino técnico-profissional que a sociedade precisa? É aí que entra o sistema chamado California Community Colleges, terceiro de um sistema tripartite que tem sido referência no mundo todo.

A CCC é o sistema responsável por receber todos os estudantes – principalmente os de baixa renda – que não entrariam na UC e CSU. O sistema que é gratuito tem papel fundamental na preparação de enfermeiros, bombeiros, policiais, soldadores, mecânicos de automóveis, mecânicos de avião e trabalhadores da construção civil. Justamente por não ser elitizado o sistema de Comunity Colleges é responsável por 2,1 milhões de estudantes em 114 colleges.

Essa concepção de separar cada um dos três sistemas de ensino em sua vocação, denominado Plano Diretor de Educação Superior da Califórnia, mostra que estamos muito atrás de um debate maduro.

A mentalidade que existe por aqui é que qualquer Universidade deveria ser referência em pesquisa. A síndrome de Harvard nada mais faz do que despejar bilhões para financiar pesquisas, muitas vezes sem demanda pela sociedade. Enquanto isso, o sistema de ensino superior conversa muito pouco com o setor privado, e os empregos técnicos são deixados ao relento.

O Estado da Califórnia tem 39 milhões de pessoas. A divisão do ensino superior em três diferentes frentes voltadas para vocação de cada um, faz com que o estado consiga atender, ao todo, 2,8 milhões de estudantes no ensino superior. É o maior sistema educacional do mundo. São Paulo com 44 milhões fica muito atrás. USP, Unesp e Unicamp, as três universidades estaduais paulistas, tem aproximadamente 180 mil alunos. Mesmo somando os 70 mil alunos das Fatecs, conseguimos atender no máximo, 250 mil estudantes. Mesmo considerando que o PIB da Califórnia é cinco vezes maior do que o de São Paulo, o sistema deles atende mais de dez vezes o número de pessoas que o nosso. É necessário repensar o papel do Ensino Superior.

A cobrança de mensalidades – muito defendida por mim – é apenas uma parte ínfima de toda discussão que devemos avançar. Se não refletirmos sobre qual é o papel da universidade, vamos continuar atendendo a uma elite de estudantes e por mais inclusivo que sejamos, nunca teremos uma universidade para todos. O filho da Dona Maria, empregada doméstica, vai continuar pagando pela Universidade pública, sem a menor chance de chegar lá.

*Daniel José, economista formado pelo Insper e mestre em Relações Internacionais por Yale. Hoje é deputado estadual pelo Partido NOVO em São Paulo

*Leonardo Siqueira, economista formado pela FGV, mestre em Economia pela Barcelona Graduate School of Economics e fundador do Terraço Econômico

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