Wilson Lima | O Antagonista
A deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP), responsável pelo abaixo-assinado com aproximadamente 70 assinaturas de parlamentares que pediram o veto ao “golpe do fundão”, classificou a decisão de Jair Bolsonaro como uma vitória.
Na sexta-feira última, Bolsonaro vetou o fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, mas deixou em aberto ainda como ocorrerá o financiamento das campanhas eleitorais de 2022.
“É um alívio ver que ele vetou [o golpe do fundão], mas ainda estou apreensiva em relação ao que pode acontecer daqui para frente”, disse a parlamentar a O Antagonista.
Na visão de Ventura, o episódio revela a necessidade de o parlamento discutir, de forma madura, um eventual retorno do financiamento privado das campanhas eleitorais, vetado desde 2015.
“O problema não é o modelo de financiamento, mas a falta de transparência”, afirma a deputada federal.
Leia os principais trechos da entrevista:
Deputada, o presidente vetou o fundão eleitoral de R$ 5,7 bi. É uma vitória para a senhora que trabalhou contra esse valor?
Sim, foi uma vitória. Diria que é um alívio ver que ele vetou, mas ainda estou apreensiva em relação aos próximos passos. Primeiro ver se o veto não será derrubado no Congresso. Depois, precisamos saber o que virá para o financiamento das campanhas. Se o presidente vai manter os R$ 2 bilhões de 2020, se vai aumentar o valor ou se vai adotar uma outra iniciativa.
Um abaixo-assinado com quase 70 assinaturas foi uma sinalização que o fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões não foi bem assimilado pela sociedade?
Sim. A pressão popular ajudou a pressionar os deputados e senadores a se posicionarem sobre o erro que cometemos na votação do Congresso Nacional. Não podemos esquecer que o poder emana do povo.
Deputada, essa celeuma em torno do golpe do fundão pode trazer de volta a discussão sobre o financiamento privado?
Eu acho que a gente tem de voltar a discutir o financiamento privado com regras, com transparência e com regras claras para evitar corrupção. E, ao mesmo tempo, discutir um financiamento público que, de fato, garanta o acesso universal à política. O financiamento público tem de ser democratizado. Os recursos para as campanhas não podem ficar nas mãos dos caciques. Isso gera a desigualdade na disputa – com uns recebendo o teto e outros nada. E também gera dificuldade na renovação política.
Mas o problema é que houve a associação do financiamento privado com a corrupção. Isso não poderia acontecer novamente?
Acho que a gente precisa rediscutir, de uma forma madura, o financiamento privado. Mas a partir de regras claras e transparentes. O problema não é a forma de financiamento, mas a falta de transparência. A falta de regras claras é que incentiva a corrupção. Não adianta simplesmente proibir. Até porque, existe corrupção também com dinheiro público. O que não dá é simplesmente demonizar o financiamento privado e deixar para o financiamento público essa vergonha que é a concentração de recursos nas mãos da alguns poucos caciques. E o pior: tirando recursos que deveriam ir para o que é essencial – saúde, educação, segurança, saneamento etc.
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