Por Alexis Fonteyne* | Exame
Uma máxima entre especialistas e formuladores de políticas públicas diz que educação básica e formação profissionalizante são fundamentais para fazer uma inclusão social produtiva efetiva. O ensino é o caminho para fazer com que todos sejam capazes de gerar riqueza por meio de sua própria força de trabalho.
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No Brasil, apesar dos pesados investimentos em educação básica, ainda temos baixos resultados no índice PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Nossa força de trabalho segue desqualificada e os incentivos para qualificação partem muito mais da iniciativa privada (empresas e Sistema S) para atender a sua própria demanda, do que de uma política nacional estruturada de formação.
Uma política de ensino mais bem elaborada e maiores incentivos para que as pessoas tenham acesso ao estudo e possam se desenvolver plenamente já teria a sua importância e diminuiria nossas perdas de talentos, que não chegam a ser revelados em função das falhas no ensino.
“Ensinar a pescar” é necessário. Mas será suficiente?
Certamente não é! Para não perdermos a oportunidade de revelar e de reter talentos, será preciso mais do que ensino. Investir exclusivamente na formação, com rigor, alta performance e disciplina revela talentos, desperta o interesse, cria fundações e transmite conhecimento, mas se não houver ambiente para desenvolver todo esse potencial, perdemos essa riqueza.
“Tem que ter ambiente de pescaria”
Curiosamente, é sempre o Estado quem atrapalha o ambiente de negócios, seja por causas ideológicas, como no caso de países com regime socialista, nos quais a iniciativa privada era tolhida e restrita, ou seja por excesso de burocracia, regulamentações, reservas de mercado, cartórios, restrições de importações e outros, como é o caso do Brasil.
Pelo índice do Doing Business do Banco Mundial, que utiliza dez critérios para avaliar a facilidade para se fazer negócios, o Brasil, a 12ª economia do mundo, ocupa a posição 124 entre os países mais difíceis para se fazer negócios. Quando falamos do sistema tributário, estamos ainda piores, na posição 186 entre 190 países que compõem o ranking.
As dificuldades relacionadas com o excesso de obrigações acessórias, falta de governo digital, excesso de exigências desnecessárias, normas regulamentadoras que tratam de forma igual uma empresa de fundo de quintal e uma grande empresa, jogam a produtividade brasileira para baixo e criam um ambiente de negócios ruim.
Fuga de capital humano
Por mais absurdo que pareça, o Brasil tem se assemelhado ao exemplo de outros países que foram exportadores de mentes brilhantes e de grandes talentos devido à ausência ou dificuldade de ambiente de negócios. Esses foram os casos da antiga União Soviética, da Alemanha Oriental e de boa parte dos países socialistas logo após a queda do Muro de Berlim, em 1989.
Segundo dados de 2017, estudo realizado pela OCDE mostrou que o Brasil subiu nove posições no ranking de países que mais enviam imigrantes para economias ricas, os brasileiros passaram a ocupar a 17ª posição em uma lista de 50 principais nacionalidades que emigram para os países da OCDE.
A fuga de capital humano, fenômeno também conhecido como “fuga de cérebros”, é a emigração significativa de indivíduos com aptidões técnicas ou conhecimento, motivada por fatores como a falta de oportunidades em seu país de origem. As pessoas que deixam o Brasil nessas condições são qualificadas e resilientes e tendem a se adaptar bem no exterior por estarem já acostumadas a sobreviver no péssimo ambiente de negócios brasileiro.
Essa perda de profissionais capacitados tem custos sociais altos para o Brasil, nos afasta das principais inovações e acarreta perda de competitividade global. Estamos desperdiçando talentos pela falta de um ambiente propício para retê-los
O outro lado da moeda é que as nações com um profícuo ambiente de pescaria conseguem “sequestrar” e se aproveitar dos cérebros que os países como o nosso perdem. Estudo publicado pela New American Economy em 2019 revelou que quase metade (45%) das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, que registraram uma receita de US$ 6,1 trilhões no ano anterior, foram fundadas por imigrantes ou filhos de imigrantes
Brasil Competitivo
Por todos esses motivos, devemos lutar para criar e manter um ambiente de negócios bom e capaz de reter nossos talentos. Isso pode ser feito a partir da redução do custo Brasil, retirada de reservas de mercado e adoção de medidas de simplificação. Com a melhora do “ambiente de pescaria”, teremos um Brasil mais competitivo, com mais oportunidade, com melhor ambiente de negócios e mais preparado para unir os seus talentos no enfrentamento dos próximos desafios econômicos e sociais.
*Alexis Fonteyne é engenheiro, empresário e Deputado Federal do Partido NOVO, por São Paulo.


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