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terça-feira, 24 de março de 2020

A miséria é o inimigo maior

Nas últimas semanas, o Brasil está aterrorizado por uma doença que vem se alastrando. E com motivos.


Gilson Marques | Deputado Federal (NOVO-SC)

A nossa vontade é evitar cada perda que ela possa provocar e, para isso, buscamos refugiar a todos.

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Deputado Federal Gilson Marques (NOVO-SC) | Divulgação

Mas, neste ambiente de medo, não estamos conseguindo avaliar as consequências dessa decisão.

Vidas não podem ser comparadas a dinheiro, qualquer pessoa decente sabe disso. Porém, precisamos sim colocar na balança as vidas que se perdem e que se salvam a cada escolha.

A decisão de parar o país, ao contrário do que a maioria imagina, tem potencial de causar muito mais dor e mortes do que o próprio vírus.

Na luta que está começando, é necessário lembrar que, durante a Segunda Guerra Mundial, a fome matou mais do que a soma de todos os combates.

Em um país subdesenvolvido como o Brasil, com um pé na desordem e na criminalidade, com a população vivendo em cidades grandes e dependentes, em tempo integral, de recursos sendo levados e trazidos por uma rede de cooperação complexa, delicada e toda conectada, a consequência dessa decisão pode ser muito mais desastrosa que a COVID-19.

Hoje o Brasil tem 14 milhões de miseráveis. Qual será o custo humano de dobrar, triplicar ou de quadruplicar este número? Quantas pessoas morrerão de fome, má nutrição, por outras doenças que atingem principalmente os mais pobres, pela criminalidade ou pelo desespero? Afinal, quando se prevê meses de paralisação, é isso que precisamos encarar.

A nossa sociedade é uma estrutura viva e depende da atividade de cada um de nós para sobreviver. As fábricas que produzem alimentos precisam das fábricas que produzem máquinas, peças, EPIs, insumos e vice-versa. Uma loja, quando vai à falência, acaba com o sustento dos seus funcionários e arrasta junto os seus fornecedores. Esses também têm funcionários e outros fornecedores, gerando uma reação em cadeia, uma bola de neve de desestruturação.

Para conhecer as consequências, basta olhar para a nossa vizinha Venezuela. Não foi por uma doença, mas lá, a economia também foi destruída. Qual a quantidade de sofrimento e de morte que essa destruição causou? Quantos milhões passam fome? Quantas pessoas perdem a vida?

Grande parte de nossa população “faz bico” durante o dia para ter o que comer à noite. Nós não temos recursos, estrutura e nem cultura para suportar muito tempo em confinamento.

O governo não pode fingir que vai resolver o problema imprimindo dinheiro e prometendo sustentar a economia. Essa solução dá apenas um fôlego, mas dura pouco.

A sociedade depende dos brasileiros produzindo, do valor que cada um gera no seu trabalho. Sem isso, não existe imposto, não existe comida, não existe riqueza. Se essa bicicleta parar, ela perde equilíbrio e cai.

Num cenário de caos, de violência e de saques, as Forças Armadas não têm a menor condição de garantir a segurança e o funcionamento das atividades básicas. Nenhum exército do mundo teria.

Já está claro que os nossos hábitos terão que mudar com medidas de prevenção e higienização que vieram para ficar. Todos concordamos que os idosos e os mais vulneráveis precisam ser protegidos. Mas, desse ponto pra frente, as decisões são difíceis – as mais difíceis que nós já enfrentamos.

Mas as escolhas PRECISAM ser feitas. Não com pânico, mas com razão. Infelizmente, a realidade não se importa com os nossos sentimentos. Não adianta salvar pessoas ao custo de mais pessoas ainda. A cura não pode ser pior do que a própria doença.

Em uma mão temos a vida de pessoas, e na outra mão temos mais vidas ainda.

Polo Azul (Masculina)

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