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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

A juventude sofre de um mal silencioso e mal compreendido, escreve Lucas Gonzalez

O Brasil precisa falar sobre suicídio. Redes sociais são parte da equação.


Lucas Gonzalez | Poder360

O suicídio é a 2ª principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. O dado é assustador. A juventude sofre um mal silencioso e ainda pouco compreendido por grande parte da sociedade. O presente artigo tem a intenção de expor alguns dilemas e provocações acerca do tema e como as redes sociais têm seu papel coadjuvante.

A falsa 'vida perfeita' exibida nas redes sociais pode ter efeitos na saúde mental dos jovens | Sérgio Lima/Poder360

O filósofo Umberto Eco, em uma reflexão quanto à forma que se expandiram as redes sociais, instiga: “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. O que, matematicamente, está correto. Qualquer processo de democratização dos meios de informação que ampliem a base da comunicação irá incluir todos os tipos de pessoas: racistas, preconceituosos, brilhantes, criativos, metódicos e até os imbecis. Mas como a juventude lida com esse cenário?

Uma pesquisa feita pela Royal Society for Public Health, instituição de saúde pública do Reino Unido, constatou que na faixa etária de 14 a 24 anos, 90% dos jovens usam redes sociais –mais do que qualquer outro grupo etário, o que os torna ainda mais vulneráveis a seus efeitos colaterais. Os sintomas da ansiedade são geralmente desencadeados nos mais jovens, pela falsa “vida perfeita” que os indivíduos constantemente compartilham, mesmo que esta realidade esteja longe da sua vivência real. A perfeição forçada gera falsas expectativas sob as pessoas, desencadeando frustrações e viabilizando um ambiente fértil para problemas de saúde mental.

O imediatismo, a ansiedade, a falta da presença familiar –que com o passar do tempo passou a terceirizar sua responsabilidade parental para outros atores–, o senso exacerbado de proteção e restrição dos menores e ao mesmo tempo a liberdade e ampliação de contatos que a internet trás, são exemplos de conflitos paradoxais da contemporaneidade.

O suicídio, geralmente, quando consumado, é antecedido por um histórico de depressão, síndrome do pânico ou alguma outra doença mental. A prevenção nestes casos é fundamental. A identificação precoce de comportamentos relacionados à disfunção na sanidade mental dos jovens é uma força motriz no combate ao suicídio e automutilação.

O problema deve ser levado com seriedade. Ninguém tira sua vida por frescura ou drama. A depressão é como uma nuvem negra, que em épocas de crise, torna-se uma tempestade.

Neste sentido, a psicóloga Melissa G. Hunt publicou suas descobertas no “Journal of Social and Clinical Psychology” acerca de como a diminuição do uso das redes sociais diminui a sensação de solidão e depressão: “Usar menos redes sociais do que você normalmente usa levaria a reduções significativas tanto na depressão quanto na solidão. Esses efeitos são particularmente pronunciados para as pessoas que estavam mais deprimidas quando entraram no estudo”.

O estudo mostra que na realidade, o uso excessivo das redes nos prejudica consideravelmente em nossas relações sociais. A falsa sensação de companhia criada pela internet, na verdade, colabora com nossa ansiedade e da forma com que lidamos com a realidade.

Precisamos falar também sobre as respostas a isso e como o Brasil se insere no cenário mundial. Bem, os índices de suicídio no mundo estão diminuindo, mas crescem até 24% entre adolescentes no Brasil. A pesquisa feita pela Unifesp nos mostra essa triste realidade.

Os 7 pesquisadores da Unifesp utilizaram dados do SUS (Sistema Único de Saúde), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Coeficiente Gini (que mede desigualdade) para chegar às conclusões. Eles apontam a popularização da internet, as mudanças sociais que a sociedade brasileira permeia e a falta de políticas públicas para combater este mal silencioso são alguns vetores de intensificação do crescimento das taxas no país.

O prisma parece caótico. Mas o Brasil caminha para resolver este problema. Temos hoje na Câmara dos Deputados, presidida por mim, a Frente Parlamentar de Combate e Prevenção ao Suicídio e Automutilação. No dia 10 de setembro, comemorou-se o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio 2019, e realizamos, pela 1ª vez, um simpósio abordando a temática. Ações que interligam os setores da sociedade civil, o Executivo e o Legislativo são o nosso foco.

Juntos somos mais fortes. O caminho é longo, árduo, mas a força da sociedade, a força da política e as ações entre elas nos levarão a um país onde a inspiração e a determinação sejam fatores de mudança social.

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