Empresário Salim Mattar, um dos maiores doadores da campanha, equipara os dois candidatos
Joana Cunha | Folha de S.Paulo
Com apenas três anos de registro e o discurso de que veio para renovar a política brasileira, o partido Novo vive um racha a poucos dias de sua primeira eleição para presidente, em que concorre com o candidato João Amoêdo.
O empresário Salim Mattar, da locadora de veículos Localiza - Segio Zacchi/Valor |
Sem ter conseguido romper a barreira de 3% das intenções de votos nas pesquisas — patamar que já considera um sucesso por estar empatado com nomes de tradição na política como Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB) —, Amoêdo vem enfrentando dilemas comuns a candidaturas retardatárias, mas se recusa a abrir mão de regras que estabeleceu no estatuto da sigla.
Grande entusiasta do Novo e um dos mais importantes doadores da campanha, o empresário Salim Mattar, dono da locadora de veículos Localiza, começa a falar em voto útil no adversário Jair Bolsonaro (PSL), expressão rejeitada pelo partido, que defende a escolha por convicção, mesmo em casos de candidatos sem a menor chance de vitória.
A baixa vem num momento em que a cúpula estuda até a expulsão, por infidelidade partidária, de seu candidato a governador mais bem colocado nas pesquisas de intenção de voto, Romeu Zema, que concorre em Minas, porque ele pediu votos para Bolsonaro durante um debate de TV na terça (2).
Em outra frente da cisão do Novo, os parcos eleitores de Amoêdo passaram a enfrentar pressão nesta reta final de campanha por parte de eleitores de anti-petistas para que se unam na tentativa de levar Bolsonaro à vitória no primeiro turno.
Mattar afirmou à Folha nesta quarta-feira (3) que passou a pregar voto útil em Bolsonaro e a sustentar que os simpatizantes do partido possam manifestar apoio ao capitão reformado desde já. Para justificar sua guinada, Mattar diz ver "uma semelhança muito grande" entre Amoêdo e Bolsonaro.
O empresário diz considerar que o Novo "tem um ideário espetacular e é tudo aquilo que os brasileiros sempre esperaram de um partido", mas a mudança na direção de sua proa aconteceu após as recentes declarações do ex-ministro da Casa Civil petista José Dirceu ao jornal El País anunciando que a agremiação "vai tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição".
"A partir das declarações do Dirceu, eu e qualquer cidadão brasileiro, nós descobrimos uma coisa que estava subliminar. Não é que, ali, eu desembarquei da candidatura do João Amoêdo. Mas precisamos entender que não podemos pagar a conta de ter o PT no poder. Precisamos ser racionais", afirmou Mattar, que apesar de compartilhar dos ideais liberais, não é formalmente filiado.
"Ambos [Amoêdo e Bolsonaro] farão governos disruptivos. Escolhas para ministério e a administração pública serão técnicas e não haverá toma lá dá cá. Ambos são conservadores nos valores da família e liberais na economia, apoiarão a Lava Jato, serão firmes no combate à criminalidade e favoráveis ao direito do cidadão adquirir e portar armas", comparou Mattar.
O empresário pondera que "nenhum dos dois possui bancada no Congresso, mas verão os congressistas apoiarem seus projetos".
O racha aborreceu nomes de peso que resistem ao lado de Amoêdo, como o banqueiro Ricardo Lacerda, dono da BR Partners, que considera Bolsonaro um candidato desqualificado para o cargo.
"É lamentável o bullying que está sendo feito por partidários de Bolsonaro para conquistar o voto útil de eleitores do Novo. O anti-petismo não justifica apoio a um candidato sem qualificação para ocupar a Presidência", disse Lacerda.
Dentro do partido, o candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Mateus Bandeira, apresentou imagens de Bolsonaro em seus vídeo de campanha recentes. Tentando pegar carona na popularidade do presidenciável do PSL, Bandeira exalta que é a favor da revogação do estatuto do desarmamento.
Entre os candidatos ao legislativo, o tom de Vinicius Poit foi mais confrontador. Poit diz que respeita a decisão de Amoêdo de se manter neutro num eventual segundo turno entre Fernando Haddad (PT) e Bolosonaro, mas ele próprio, como político vai preferir se posicionar. "Neutralidade nunca, neutralidade jamais. Se for PT e Bolsonaro no segundo turno, eu voto Bolsonaro", afirma.
Moisés Jardim, presidente do Novo, diz que as discordâncias identificadas dentro do partido à medida que o dia da votação se aproxima são diferentes umas das outras, mas que todos os casos "incomodam muito".
"Tem um pouco do calor eleitoral. Alguns marqueteiros colocam a questão do voto acima", diz Jardim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário