Por Carolina Caetano | O Tempo
O fogo que consome a fauna e a flora em Minas Gerais se expande de forma avassaladora. De acordo com a última divulgação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram 5.211 focos de queimada de 1º de setembro até a última quinta-feira, o maior índice registrado em setembro em nove anos. No mapa de monitoramento do instituto, o Estado está em segundo lugar no país em número de queimadas, atrás apenas da Bahia, que tem 5.573.
O Cerrado sofre com as queimadas neste período de estiagem e a baixa umidade | Foto: José Cruz / Agência Brasil |
“A gente tem passado por um período de grande escassez hídrica, a estiagem está muito forte, e isso vem se refletindo em vários setores, tanto nas represas como na própria vegetação, que já está bem mais vulnerável à propagação do fogo. A falta de chuva ao longo dos tempos é o principal fator desses incêndios”, explicou Fabiano Morelli, chefe do Programa Queimadas, que pertence ao Inpe.
Neste mês, que ainda não terminou, Minas Gerais já superou a média histórica de setembro, que é de 3.031 focos. Segundo Morelli, o fogo no Estado, historicamente, tem as maiores quantidades registradas nesse período. Além do tempo seco, a causa humana também contribui para as diversas queimadas registradas no país, de acordo com o Inpe.
“Temos poucas ocorrências de fatores naturais, como raios, fogos em turfas. Podem acontecer, mas a proporção é pequena frente à quantidade total de fogo que a gente está detectando pelos satélites. A ocorrência está, sim, associada a fatores humanos”, detalhou Morelli.
Causas das queimadas
Segundo ele, os incêndios podem acontecer por descuido ou intencionalmente, de forma criminosa. “As queimadas estão associadas também à prática do uso do fogo. Ele é feito para limpeza de terrenos, renovação de pastagens”, disse.
O principal alerta, de acordo com o profissional, é a conscientização da população. “As pessoas devem, sim, pensar um pouco mais além do seu patrimônio. Devem pensar no que vai acarretar aquele fogo, aquela fumaça. Não é só a perda ambiental, mas também o impacto para a saúde humana. Nós estamos no pior cenário, é um período crítico”, afirmou.
Punição por crime ambiental
No dia 13 de setembro, o governo de Minas iniciou uma força-tarefa para reprimir os incêndios florestais no Estado. De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), desde o dia 1°, a Polícia Militar de Meio Ambiente prendeu oito pessoas suspeitas de provocar incêndios em vegetações. Dessas detenções, três foram realizadas durante a força-tarefa.
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) é responsável por combater os incêndios florestais nas 94 unidades de conservação gerenciadas pelo governo. De janeiro a setembro deste ano, foram 693 queimadas em áreas protegidas – só neste mês, foram 218 queimadas.
Qualidade do ar chega a "muito ruim"
O Centro Supervisório da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), que faz o monitoramento em estações de BH, Betim, Brumadinho e Ibirité, na região metropolitana, constatou que neste mês houve registros de qualidade do ar “ruim” e “muito ruim”.
Na última quarta-feira, o índice variou da faixa verde, considerada boa, até a vermelha, considerada muito ruim na Estação Centro, na avenida do Contorno. A qualidade do ar ruim pode agravar sintomas como tosse seca, ardor nos olhos, nariz e garganta, falta de ar e respiração ofegante.
“Quando você queima a matéria orgânica, você joga para a atmosfera diversos tipos de poluentes, entre eles monóxido de carbono, óxido de nitrogênio, entre outros”, explicou Rizzieri Pedruzzi, professor substituto do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
Previsão do tempo
Segundo o Inmet, a última chuva em BH e região foi registrada nos dois primeiros dias de setembro, mas abaixo de 5 mm. Neste sábado (24), pode ter pancadas de chuva.
Após incêndio, fazenda é invadida no Norte de Minas
No município de Gameleiras, no Norte de Minas, vários focos de incêndio foram registrados em fazendas na última semana. Uma das propriedades foi invadida, posteriormente, por cerca de 300 pessoas que tinham a intenção de montar um acampamento. O dono acredita que pode ter sido uma ação planejada.
"A minha fazenda tem 13 mil hectares e foi praticamente queimada por um incêndio criminoso. Esse pessoal colocou fogo para invadir. No momento que começou o fogo, os funcionários estavam em outra cidade", explicou o proprietário da Fazenda Veredas de Jundiaí, Mauro Luiz Dias.
Segundo ele, o grupo que invadiu, formado por famílias com crianças, teria a intenção de plantar e ficar no local. Lonas e piquetes foram colocados na área. A Polícia Militar foi acionada, e, ainda conforme Dias, medidas são tomadas para reverter a situação.
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