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quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Juliana Benício: As diversas faces do assistencialismo político

Em época de eleição é muito comum ver um político atacar o outro de “assistencialista”. Não tenho dúvida do potencial difamatório do adjetivo, mas é evidente que poucos entendem seu real sentido, suas principais consequências e o por que ele é um dos principais vilões para se instituir uma democracia liberal.

Juliana Benício (NOVO-RJ) | Boletim da Liberdade


O assistencialismo significa o cultivo de um problema sob a aparência da ajuda, mas sem interesse de buscar uma solução concreta. Na prática são migalhas que nunca acabam com a fome, mas que causam a dependência dos famintos. Não é tão simples identificar o assistencialismo, principalmente em uma sociedade tão carente como a nossa. Recorrentemente, o assistencialismo é confundido com “generosidade” ou “assistência social”, mas enquanto os últimos têm caráter emergencial ou de atuação para garantir a dignidade humana, o primeiro atua como um reforço populista e proporciona benefícios com vistas ao aliciamento eleitoral.


Em diversos setores políticos, práticas assistencialistas se propagam sem que sua verdadeira face seja reconhecida. Isso porque o assistencialismo carrega diversas nuances conceituais importantes. São elas:

Assistencialismo tradicional (ASSIT-TRAD):


Atua no campo da ajuda ao próximo, mas tem como verdadeiro objetivo alimentar o reduto eleitoral. Essas ajudas compõem um esquema de soluções paliativas que buscam atender demandas recorrentes da população. ASSIS-TRAD não se preocupa em resolver o problema estrutural, pelo contrário, o mais interessante é perpetuá-los.

Em meu livro “A política e a vida real” conto muitas histórias do ASSIST-TRAD. Políticos que durante anos são responsáveis por desentupir o encanamento de esgoto e consertar a bomba que leva água para o alto do morro, mas eles nunca se interessam em investir em saneamento básico. Políticos que são conhecidos por conseguir uma vaga na creche ou encaixar na fila de um exame de imagem. Para esses políticos, a fila é um negócio muito interessante. A população, em geral, se sente grata, e não percebe que se encontra em uma situação de dependência gerenciada pelo próprio político.

Assistencialismo ideológico (ASSIST-IDEOL):

Atua no campo das ideias e fomenta ideias radicais, na maioria das vezes utópicas. Ele é praticado tanto na extrema esquerda quanto na extrema direita. O ASSIST-IDEOL não tem objetivo de propor soluções viáveis para a sociedade, mas de fomentar uma sociedade em conflito, onde os eleitores assumem uma militância fiel e combativa.

No campo do ASSIST-IDEOL encontramos os agentes políticos da esquerda PSOLISTA que defendem, por exemplo, a estatização da economia e o fim da propriedade privada. Com a máscara de buscar uma sociedade igualitária, oferecem ideias políticas para diversos problemas sociais totalmente desconectados da realidade. É uma luta utópica, mas que os mantém eleitos e com mandatos políticos.

No campo da direita também encontramos o ASSIST-IDEOL. O bolsonarismo tem como principal missão lutar contra uma esquerda comunista e, mesmo estando no poder, continua disseminando o perigo iminente da invasão vermelha. Claramente, o objetivo dos bolsonaristas não é combater um inimigo real (a fome, a corrupção…), mas alimentar, em seus eleitores, uma guerra ideológica contra um inimigo imaginário.

Assistencialismo do Legislativo (ASSIST-LEGISLA):

Atua no campo da ação parlamentar e é promovido por políticos que têm interesse que pautas ruins sejam recorrentemente propostas, dado que, com isso, sua atuação no legislativo ganha mais visibilidade. Dessa forma, eles não se declaram oposição (ou situação) ao governo, mas se tornam uma linha auxiliar de uma suposta sensatez contra péssimas medidas.

É importante pontuar que a independência da posição parlamentar não é o problema, mas o fato do mesmo construir seu perfil e sua visibilidade pautado nas críticas ao executivo e sua bancada. Ou seja, ele só se torna relevante porque um executivo medíocre existe. É como se o parlamentar tivesse interesse de passar a vida podando ervas daninhas, sem remover a planta pela raiz.

Assim como o ASSIS-TRAD se traveste de generosidade, o ASSIST-LEGISLA se traveste da sensatez. Por não serem muito aguerridos na resolução do problema na origem, disseminam a narrativa de razoabilidade.

Na prática, muitos exemplos poderiam ser dados. Nas três instâncias vemos parlamentares que se alimentam da visibilidade que certas pautas podem dar, mas não se declaram oposição ao governo por diferentes fatores políticos.

Hoje em dia, fica latente como certos parlamentares ganham visibilidade lutando contra diversas pautas inaceitáveis propostas pelo Governo Bolsonaro (fundão eleitoral, novo código eleitoral, tratoraço, entre outros), mas não se declaram oposição. Eles baseiam sua atuação parlamentar no controle do fogo emitido pelo governo, mas são incapazes de ajudar a apaga-lo.

Em todas essas formas de assistencialismo, a população é prisioneira. Dependentes de uma ideologia, de uma ajuda, de uma ação. Não percebem que se os políticos não fossem assistencialistas e atuassem no cerne do problema, eles não dependeriam mais de ninguém. Especialmente para quem considera o princípio da liberdade anterior e superior ao princípio da igualdade, o combate ao assistencialismo tem especial importância. Fica claro que nas ações assistencialistas citadas, a narrativa é justificada pela busca de uma igualdade momentânea, mas com ônus de trazer dependência no médio e longo prazo. E isso é exatamente o oposto do que nós, liberais, queremos.

Juliana Benício: Mãe de 4 filhos: Neto, Hugo, Ana Julia e Augusto. Política niteroiense, escritora do livro "Política e a Vida Real". Doutora em Engenharia de Produção, Mestre em Economia, Coordenadora de Propriedade Intelectual e Transferencia de Tecnologia do IFRJ e Avaliadora de Ensino Superior no INEP/MEC.
Facebook: @JulianaBenicioOficial
Instagram: @JulianaBenicioOficial
Twitter: @jubenicionovo

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