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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Minas pode levar o País a ser um dos maiores produtores de lítio

Relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgado ontem, aponta a tendência de aumento do uso dos minerais estratégicos da chamada cadeia de energia limpa. Entre eles, está o lítio, cuja demanda mundial pode ser multiplicada por 40 vezes até 2040.

Por Sandra Carvalho | Diário do Comércio

Com os projetos da Sigma e da AMG, a produção da Companhia Brasileira de Lítio (CBL) e com inúmeras pesquisas em andamento, Minas Gerais, no médio prazo, pode levar o Brasil a figurar entre os maiores produtores do mineral no mundo. Segundo especialistas, isso é possível considerando cenários interno e externo favoráveis. Além disso, para que a produção signifique desenvolvimento, são necessárias melhorias em arranjos produtivos, pesquisa, políticas públicas e legislação.

Por se tratar de um elemento mais leve, ter melhor potencial eletroquímico e melhor relação entre peso e capacidade energética, as aplicações do lítio têm aumentado bastante e hoje vão desde usos energético-nucleares, passando por baterias elétricas e outros produtos eletrônicos, até medicamentos, lubrificantes, entre outros.

Em Minas Gerais, a Companhia Brasileira de Lítio (da qual o Estado detém 33% das ações) é a mais antiga. A Mina da Cachoeira, de onde a empresa extrai e beneficia o mineral do qual é retirado o lítio, fica em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. A planta química, onde acontece a produção dos compostos de lítio, está em Divisa Alegre. A capacidade é de 30 mil toneladas por ano.

Também no Jequitinhonha, está sendo executado o projeto da Sigma Mineração, que planeja 220 mil toneladas de lítio ao ano, com investimentos de R$ 647 milhões. As produções deverão ter início em 2022 na primeira fase e, em 2023, na segunda. Já a AMG, com mina em Volta Grande, entre os municípios de Nazareno e São Tiago, na região Central, tem contrato de venda antecipada de 200 mil toneladas de concentrado de lítio nos próximos cinco anos. O investimento previsto é de R$ 838,9 milhões.

Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) há também áreas de grande potencial produtor em Governador Valadares, Galiléia, Conselheiro Pena, Resplendor, Divino das Laranjeiras e Mendes Pimentel, Resende Costa, Conceição da Barra de Minas, São João del-Rei, Ritápolis e Coronel Xavier Chaves.

Na avaliação do assessor técnico da Agência Nacional de Mineração (ANM) Mathias Heiter, os projetos hoje estão mais lentos, pois os órgãos que regulam e fiscalizam, principalmente a questão ambiental, estão mais cuidadosos e rigorosos, devido às tragédias da Vale em Brumadinho e Mariana.

“É preciso que ocorra otimização nesses processos, mas sem deixar o rigor e os cuidados de lado”. De acordo com ele, questões como licença social e a disputa por recursos hídricos em algumas regiões produtoras são também fatores de preocupação. “São questões que precisam ser trabalhadas com mais governança”, afirma Heiter, que acompanha cenários da mineração.

A demora também está presente na pesquisa de ocorrência do lítio, segundo o diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Ibram, Júlio Nery. “No Brasil, o lítio ocorre em rochas chamadas pegmatitos, que não têm a regularidade de grandes depósitos, como mármores, bauxita ou minério de ferro. Por isso, é preciso uma pesquisa de maior detalhe, mais acurada, que é mais demorada”. Associada a essa particularidade do lítio, Nery também destaca a demora dos órgãos responsáveis em liberar os levantamentos.

Arranjos produtivos 

Outros pontos que carecem de atenção são os arranjos produtivos locais (APLs), segundo o doutor em engenharia dos materiais e professor do curso de engenharia geológica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), José Maria Leal.

“É preciso haver quebra de paradigmas. Até quando o Brasil será o eterno fornecedor de matérias-primas? É possível trabalhar várias áreas dentro da extração, melhorando qualquer tipo de impacto desse tipo de mineração. Os projetos de governança social, ambiental e corporativa que vemos hoje podem melhorar e gerar mais desenvolvimento”, explicou o professor que atua em projetos de APLs em diversos setores minerais no Alto e Médio Jequitinhonha.

Para Leal, há pouco diálogo de mineradoras de lítio com o meio acadêmico nas regiões mineradas. “Temos condições de fazer um ótimo trabalho em conjunto, unindo pesquisa e o conhecimento desde a mineração até o desenvolvimento de vários subprodutos. Há conhecimento técnico e capacidade de formação de mão de obra não apenas para isso, mas também para atuar na atração de novos empreendimentos nessa cadeia”.

Leal considera fraca a atuação do poder público para a atração de fábricas de produtos com maior valor agregado na cadeia do lítio. “O Vale (do Jequitinhonha) não vai se desenvolver sozinho. Precisa de investimentos em infraestrutura para se tornar mais atrativo. O desenvolvimento vai onde há desenvolvimento, haja vista a fábrica de baterias elétricas, que comprará o lítio do Jequitinhonha, mas ficará em Juiz de Fora”, criticou.


Governo busca orientar crescimento do setor

O governo de Minas informou, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Social, que levantamentos para o Diagnóstico do Setor Mineral de Minas Gerais identificaram uma demanda crescente por lítio nos próximos anos.

O estudo, ainda em elaboração, abrange todos os tipos de extrativismo mineral e servirá para a elaboração de um plano estadual cuja conclusão está prevista para abril de 2023. Esse plano, conforme a pasta, tem o objetivo de “orientar a formulação de políticas de médio e longo prazos para a promoção da competitividade, produtividade e sustentabilidade do setor mineral do Estado”.

Conforme a pasta, a demanda crescente pelo lítio está relacionada ao mercado de baterias e aplicação em eletrônicos de consumo. Isso por conta da tendência mundial por veículos elétricos e híbridos, que deve gerar grande demanda à indústria de componentes para as baterias de lítio, criando oportunidades para empresas brasileiras de diversos setores, como o extrativo mineral, o de transformação e o químico.

Entretanto, a pasta reconhece que essa indústria de baterias veiculares tem grandes desafios a serem superados em Minas, desde a implementação de estrutura tecnológica, questões logísticas, capacitação da mão de obra, PD&I, difusão do uso e desenvolvimento de infraestrutura de postos de recarga para a viabilização dos veículos elétricos e híbridos.

Fomento 

A Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (Indi) informou, por meio de nota, que o fomento ao desenvolvimento da cadeia do lítio está entre as prioridades do órgão, que tem trabalhado em algumas frentes. Uma delas é a interlocução junto a órgãos ambientais, prefeituras e à Secretaria de Estado da Fazenda para viabilizar licenciamentos e possíveis tratamentos tributários. Também atua na viabilização financeira de projetos junto ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

No que se refere à infraestrutura, o Indi informou que faz interlocução com fornecedores como Cemig e Gasmig e junto ao Departamento Estadual de Estradas de Rodagens (DER). A agência afirmou também que atua junto a institutos de pesquisa e desenvolvimento estaduais e privados, com o propósito de aumentar as aplicações práticas do elemento e formar mão de obra qualificada.

Em relação à inteligência de mercado, a agência acompanha as autorizações de exploração e lavra por parte da ANM para fomentar projetos das empresas detentoras dos direitos minerários. Já no adensamento da cadeia do lítio, o trabalho do Indi consiste em atrair investimento de setores envolvidos e conectar mineradoras a fabricantes de máquinas e equipamento, fornecedores de softwares, prestadores de serviços, entre outros. Ainda de acordo com a nota da agência de fomento, entre os projetos na cadeia do lítio atraídos pelo Indi estão o da Sigma e o da AMG.

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