Fábio Zanini | Folha de S.Paulo
Foram 29 vereadores eleitos no país todo, um acréscimo considerável sobre os 4 de 2016, primeira disputa eleitoral da legenda.
Vereadora reeleita em São Paulo Janaína Lima (NOVO-SP) | Divulgação |
Mas o sentimento é de frustração na sigla, que esperava sucesso bem maior nas urnas. O número absoluto de mandatos conquistados no país é diminuto. Em São Paulo, falava-se em até seis vereadores eleitos, mas a bancada na Câmara Municipal terá apenas duas.
Uma delas é Janaína Lima, reeleita para um segundo mandato. A vereadora diz que o resultado eleitoral do partido exige uma autocrítica urgente, que ela chama de “repactuação”.
O objetivo é um só: preservar o caráter liberal do Novo, que nos últimos anos vem sendo assediado pelo bolsonarismo. “A gente precisa entender a mensagem das urnas, ter humildade para ouvir as respostas dos eleitores”, diz ela, em entrevista ao blog.
Fundado em 2011 como uma legenda assumidamente liberal, o Novo passa por uma profunda crise interna, que se manifestou de forma intensa na disputa em São Paulo.
Uma ala assume posicionamentos mais próximos ao presidente Jair Bolsonaro, inclusive na condução da pandemia. Seu principal expoente é o governador de Minas Gerais, Romeu Zema.
Em São Paulo, essa linha era defendida pelo candidato a prefeito, Filipe Sabará, que acabou expulso da legenda. Ostensivamente, isso ocorreu por inconsistências em seu currículo, mas o pano de fundo foram os elogios a Bolsonaro (e ao ex-prefeito Paulo Maluf, símbolo da velha direita).
Outra parte do partido é crítica de Bolsonaro e defensora de maior independência com relação ao governo. O maior representante desse segmento é o fundador do Novo, João Amoêdo. É nesse time que Janaína joga.
Para ela, o partido só tem a perder ao escolher um lado na atual polarização ideológica. “O Novo deveria ser o Novo, um partido que tem ideais, alicerces, baseados em valores e princípios, e ser maior do que essa polarização burra, que quase afundou o nossos país”, diz a vereadora.
O resultado da eleição municipal, afirma Janaína, mostra um declínio dos extremos ideológicos. “Os extremos não prevaleceram. O que prevaleceu foram propostas, propostas concretas. Ganhou quem de fato tinha condição de dar uma resposta para esse momento duro que a sociedade está vivendo”.
Por isso, afirma Janaina, é importante a “repactuação” do partido, que leve em conta esse novo momento. “O Novo precisa se posicionar como uma instituição que apoia valores republicanos, o que não coaduna com certas práticas. A gente jamais poderia ser acusados de ser base aliada, de qualquer governo”, afirma.
O recado é claro. Para ela, abraçar politicamente o governo Bolsonaro é uma receita para o declínio e a perda de relevância. Grupos que apoiam o presidente, afinal, existem aos montes, nos gabinetes e nas redes sociais.
“Nós temos de ser sensíveis para entender que não só precisamos de independência, mas também de uma postura mais firme diante de qualquer coisa que fira nossos princípios. É isso que a sociedade espera de nós”, afirma.
O imbróglio sobre a candidatura de Sabará a prefeito acabou respingando no desempenho do Novo na cidade de São Paulo. Não apenas por causa do dano à imagem do partido, mas também pela ausência de um candidato majoritário puxando votos para a legenda.
Janaina diz que, se há um ponto positivo na confusão, é o fato de que o partido mostrou que não tem medo de expor suas feridas em público. “O Novo não tem problema de reconhecer erros, corrigir rotas. O que ficou como mensagem é que o partido não colocou para debaixo do tapete os seus problemas. Agiu diante deles”, afirma.
Arranhado e um tanto frustrado, o Novo terá um longo processo de debate interno de agora até 2022. Um racha mais profundo não pode ser descartado. Amoêdo e Zema já despontam como possíveis candidatos a presidente.
Em jogo não está apenas o futuro de um partido, mas da própria ideia do liberalismo como plataforma política.
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