O jornalista americano H.L. Mencken disse que “Para todo problema complexo, existe sempre uma solução simples e completamente errada.” A frase tem um século, mas não poderia ser mais atual para tratar da questão do plástico na cidade de São Paulo.
Antes de ser considerado vilão, esquecemos da revolução que o material trouxe para o século XX. Você sabia que em 1900 o plástico substituiu fontes como marfim dos elefantes? E que os materiais descartáveis evitaram a disseminação de doenças na década seguinte? Do nylon à corrida espacial, os polímeros povoaram o transporte, o entretenimento, nossas embalagens e até a moda.
Divulgação |
Segundo dados da ONU Meio Ambiente, o mundo produz 300 milhões de toneladas de lixo plástico por ano. Apenas 14% são coletados e só 9% chega a ser reciclados. De acordo com dados do IBGE, o Brasil produziu 6,2 milhões de toneladas de produtos plásticos em 2018. Cerca de 65% desses produtos possuem ciclo de vida médio e longo e são aplicados em diversos setores, como construção civil, máquinas e equipamentos, eletrônicos, agricultura e têxteis. Apenas 0,03% da produção é referente a canudos; e 1,7%, a descartáveis.
A lei municipal sancionada nesta segunda-feira (13/1) pelo Prefeito Bruno Covas que proíbe o fornecimento de utensílios plásticos em estabelecimentos comerciais em São Paulo parece querer apenas punir o empreendedor e, consequentemente, o cidadão. Segundo os dados acima, mesmo se fosse a melhor escolha de política pública para combater o problema, a decisão do Prefeito resolve 2% da existência de plástico.
Olhando ao nosso redor fica difícil pensar em como extinguir esse material das nossas vidas. Seria possível que banindo seu uso a sociedade seria capaz resolver a poluição mundial? O problema é bem mais complexo e envolve vários atores e ações.
Não acredito em um Estado que não sirva ao indivíduo e tire sua responsabilidade — e liberdade — de ser um cidadão responsável. Como banir o uso de um material que faz parte da vida de milhões de pessoas irá tornar seu consumo mais sustentável? A mesma versatilidade que popularizou o plástico é capaz de torná-lo compatível com a solução.
Como previsto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), poder público, indústria e sociedade são responsáveis pela questão. Quando falamos que canudos, copos e pratos de plástico não podem mais ser utilizados, para quem estamos entregando a conta dessa decisão? O pequeno comerciante e o consumidor que irão pagar mais caro por isso. Segundo a lei, quem descumprir o banimento pode ser multado em até R$ 8 mil e ter até o estabelecimento fechamento em caso de reincidência.
Como podemos qualificar o debate se não pensarmos além da proibição na canetada? Apoio uma discussão que fale de gestão pública e privada de resíduos, saneamento básico e coleta seletiva, produção e consumo mais sustentáveis e o incentivo à inovação de mercados e tecnologias.
Como podemos atacar um dos grandes problemas do século se não educarmos a sociedade e dermos alternativas a quem consome? Não precisamos de mais decisões arbitrárias que resolvam problemas pela metade. São Paulo pode — e deve — qualificar um debate tão importante como o plástico com a relevância que o tema merece. Por mais discussão e alternativas e menos arbitrariedade e canetadas.
*Janaína Lima é vereadora de São Paulo pelo Partido Novo.
Camiseta Dry Fit Neon (Feminina) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário