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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Juventude mineira deixa de lado a militância partidária

Dados do TSE mostram que filiação de jovens no Estado caiu 64% nos últimos dez anos


Por Carlos Lindenberg

O número de jovens filiados aos partidos políticos em Minas Gerais caiu 64% entre 2008 e 2019, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há mais de dez anos, o Estado contava com 56 mil filiados com idades entre 16 e 24 anos. Neste ano, a realidade é diferente. São 20 mil jovens ligados às legendas.

Juventude mineira deixa de lado a militância partidária Dados do TSE mostram que filiação de jovens no Estado caiu 64% nos últimos dez anos
Foto: Isaque Castella/Arquivo pessoal

O total de filiados nessa faixa etária representa apenas 1,2% do montante de pessoas ligadas aos partidos em Minas Gerais, que é de 1,6 milhão. Nesse ponto, ao se comparar com 2008, houve um aumento da participação popular. No passado, eram 1,3 milhão de filiados no Estado.

Para especialistas, o desinteresse, a falta de incentivo e o desconhecimento da situação do país, por parte dos partidos, fazem com que a juventude deixe a militância partidária de lado.

Em busca de uma resposta para saber o motivo do distanciamento da juventude em relação aos partidos, Mariana Cardoso, 22, afirma que não se sente confortável, por exemplo, com a perda de autonomia dentro de uma legenda. Ela, que demonstra conhecimento político, prefere não entrar em nenhuma sigla.

“Você sempre vai tomar partido de alguma coisa. Nunca vai ser neutro. Eu tenho simpatia por PT e PSOL, mas, às vezes, não me sinto representada e não quero abrir mão de uma autonomia em função de uma filiação partidária. Quando você integra uma legenda, tem que sustentar qualquer posicionamento dela”, ponderou.

O argumento de Mariana é observado no dia a dia político. Diversos filiados com mandatos públicos, por exemplo, perdem ou quase perdem a ligação com partidos quando votam diferentemente da orientação da legenda.

Ao mesmo tempo, apesar de o número ser pequeno, existem jovens entusiasmados com as agremiações. Matheus Biancardine Mota, 16, é filiado ao Partido NOVO em Minas. Por rede social, demonstra participação ativa em encontros e manifestações da legenda.

“Nosso direito de voto começa com 16 anos, e a maioria não vê importância, não vê necessidade de tirar o título (de eleitor). Se o jovem é o futuro, a gente tem que despertar, tem que buscar o interesse político e fazê-los compreender que fazem parte da mudança. Falta engajamento real do jovem dentro da política”, afirmou.

Isaque Castella, 22, filiou-se ao PSOL em 2015. A motivação foi concordar com as ideias de Luciana Genro, que, um ano antes, havia sido candidata à Presidência pela legenda. Para ele, a união dentro do partido pode transformar a situação do país. “As mudanças passam pelo coletivo, que é maior que a questão individual. Hoje, a mudança só pode ser levada dentro de uma estrutura partidária”, disse o jovem.

“Partidos não têm ideologia”

Longe dos partidos políticos, jovens acabam procurando outras formas de atuação na sociedade, como entrada em coletivos, explica a doutora em história pela Universidade de São Paulo (USP) Sandra Rita Molina.

“Os jovens estão extremamente perdidos, porque o desemprego na faixa deles é altíssimo. Escutaram a vida inteira que ir para a faculdade mudaria a vida deles. Muitos desses jovens acabam se envolvendo em coletivos. Em vez de se filiar a partidos políticos, eles começam a se envolver com a micropolítica, que é a capacidade de atuação em redes. Os coletivos são fenômeno interessante, que podem se tornar movimento político nos próximos anos”, disse.

Para chegar ao ponto de pouco interesse nos partidos, Sandra diz que as legendas brasileiras não têm ideologia. “Partidos políticos não têm ideologia. Se rastrear e pensar ideologicamente, os únicos que tinham mais eram PT e PSDB. Muitos são partidos de aluguel. Há muito tempo (os partidos) já não representam os anseios da nação. Nem direita, nem esquerda. Tanto que o STF precisou fazer alguma coisa (votação sobre prisão em segunda instância) que o Congresso Nacional não fez”, afirma. Para ela, nos dias de hoje, “os partidos têm usado siglas para manter práticas patrimonialistas, mandonismo, toma lá, dá cá. Serve para todos os campos de atuação”.

Fonte/Créditos: O TEMPO

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