Henrique Gomes Batista e Gustavo Schmitt | O Globo
SÃO PAULO — Alçado ao poder na esteira da eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem se descolado do aliado nos últimos meses e feito críticas contra a gestão da crise sanitária pelo governo federal. Pré-candidato à reeleição, Zema se opõe à atuação do presidente na pandemia e também à defesa do voto impresso. Para ele, o importante são as reformas econômicas: “É de direita, de esquerda? Não interessa. A reforma saiu, ótimo”.
A nossa posição sempre foi técnica em Minas Gerais. Sempre adotamos medidas de orientação aos municípios. Nunca falamos que é obrigado, só na hora em que o sistema corria risco de entrar em colapso. O presidente tem entrado numa seara que considero que seria do ministro da Saúde. Por não ser médico, eu fico totalmente desconfortável em opinar sobre questões de saúde. Até entre os médicos há divergências. Agora, já imaginou entre leigos? Eu vejo que ele deveria deixar isso para os prefeitos e governadores, mais próximos da população.
O presidente costuma andar sem máscara e promover aglomerações. Isso dificulta a prevenção contra o vírus?
Com certeza causa mais questionamento, sim. Lamento que ele (Bolsonaro) tenha essa postura. Ajudar, não ajuda. Atrapalhar, não sei até que ponto.
O senhor tem sido mais crítico ao governo Bolsonaro. Isso tem a ver com a eleição ou com a pandemia?
Sempre acompanhei, tive diálogo e respeitei o presidente. Mas estou fazendo o que é possível e melhor para Minas Gerais. O desempenho do presidente compete aos entes federados, tem uma CPI em andamento para avaliar se ele fez certo ou não. Como venho do setor privado, sempre tive contato com grandes bancos, empresas. Muitas vezes eu discordava deles, mas isso não quer dizer que eu deveria atacá-las, agredi-las. Eu tenho que resolver os problemas do estado e preciso do governo federal. Quando você ataca a pessoa, você diminui a chance de resolver o problema. Eu tenho esse pragmatismo, que não é antiético.
O senhor é a favor do voto impresso?
Não vejo necessidade. Todo mundo tem conta corrente em banco e será que precisa imprimir extrato pra ver se foi fraudado ou não? Tem que imprimir a fatura de cartão? Agora, se quiserem fazer um teste por amostra que façam, seria bom para acabar com esse tipo de suposição. O Brasil virou mestre em procurar picuinha , e hoje, o brasileiro é mais pobre do que era em 2010. Nós demos marcha a ré, isso é que deveria nos preocupar.
Como o senhor vê um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Lula?
Vamos deixar acontecer. Em relação ao PT eu tenho uma série de restrições. O PT demonstrou claramente durante sua gestão uma série de problemas seríssimos. Eu não concordo com muitas das práticas do partido. Mas eu não sei também: será que eles mudaram? Quem sabe eles mudaram, fizeram um mea culpa e hoje está diferente? Temos muita água para rolar. Mas se o Novo tiver um candidato, é óbvio que terei de apoiá-lo no primeiro turno.
Votaria em Lula ou Bolsonaro em um hipotético 2º turno?
Eu gosto de apoiar o que é certo e o que é bom. Vamos ver quem está fazendo o que é certo e o que é bom. Eu gosto de propostas, não de pessoas.
O senhor defende um candidato de terceira via?
Precisávamos de reformas. Uma reforma tributária, uma administrativa, talvez uma político-eleitoral. Isso é que deveria nos preocupar, isso é que vai encher o prato do povo de comida. Aqui no Brasil parece que a classe política fica muito de picuinha: “ahn, ele é de esquerda, ele é de direita…” O que isso resolve? Eu quero quem chegue lá e fale: vamos fazer a reforma administrativa. É de direita, de esquerda? Não interessa. A reforma saiu, ótimo. “Olha, vamos fazer a reforma tributária”. É de esquerda ou de direita? Não interessa.
O senhor dividiria palanque com Bolsonaro em 2022?
Temos muita coisa pela frente ainda. O que você está me perguntando é que, seu eu ficar doente, se eu tomaria tal remédio em tal data, primeiro vamos ver se vou ficar doente e se até lá não surgiu um tratamento melhor.
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