Por Alexandre Freitas | Diário do Rio
Estamos passando por um dos períodos mais caóticos da nossa história, a pandemia causada pela proliferação do Sars-Cov-2. Esse caos se dá não somente na forma com que lidamos com os infectados, mas também com o comportamento das pessoas, da mídia e, principalmente, do Estado.
Estamos passando por um dos períodos mais caóticos da nossa história, a pandemia causada pela proliferação do Sars-Cov-2. Esse caos se dá não somente na forma com que lidamos com os infectados, mas também com o comportamento das pessoas, da mídia e, principalmente, do Estado.
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É inegável que a Covid-19 é uma doença séria, que matou e continua matando centenas de milhares de pessoas no Brasil. Fato esse que desperta um dos sentimentos primordiais do ser humano: medo.
O temor é um estado afetivo suscitado pela consciência de perigo, que no atual contexto se trata, primariamente, do risco de morte por Covid-19. Em paralelo, há o medo da “realidade incerta”, que envolve a perda da capacidade de autossuficiência.
Esses sentimentos se tornaram tão comuns nos últimos dois anos que cientistas cunharam o termo “Coronafobia” para se referir ao medo generalizado causado pelo Sars-Cov-2. Inclusive, uma pesquisa publicada na PubMed explicou como funciona a tal “Coronafobia”, que apesar do nome autoexplicativo, os cientistas classificam como “medo EXCESSIVO desencadeado de medo de contrair o vírus que causa COVID-19”, que dentre inúmeras situações, é melhor ilustrado pela cena de pessoas andando sozinhas, de máscara, em seus carros. A palavra “excessivo” é importante, guarde-a para mais tarde.
No Ocidente, ser apavorado se tornou uma questão moral. O psicanalista Jorge Forbes descreveu o medo como o grande orientador da nossa sociedade, na entrevista à revista Faustomag, em que lançou a famosa frase “ter medo virou uma virtude”. Se quiser testar a tese do doutor, experimente publicar em sua rede social que você acha que o pavor generalizado da Covid é um exagero. Em seguida, observe como os internautas agem como inquisidores que queimam vivo qualquer um que ouse dizer que “pode ser que o Sol não gire em torno da Terra”.
Para o historiador americano Michael Willrich, um dos maiores problemas da paranoia coletiva, o medo exagerado, é que ele pode ser extremamente resistente às provas dos especialistas, suscitando um espectro negacionista de manada que busca ouvir a Ciência somente quando ela afaga o seu viés de confirmação. Como por exemplo, infectologistas sugerirem que o uso contínuo de máscara no dia a dia, em locais abertos e por pessoas não contaminadas não é adequado e pode inclusive aumentar o risco de contágio pelo mau uso do adereço. Segundo o professor, não tendemos a ter medo das coisas com maior probabilidade de nos prejudicar. Continuamos andando de carro, de bicicleta, ingerimos bebidas alcoólicas e parcela significativa dos brasileiros ainda fuma. Ao mesmo passo que alimentamos nossa ansiedade em relação a coisas que, estatisticamente falando, representam menos perigo. Segundo Willrich, tememos tubarões, enquanto os mosquitos são, em termos de vidas perdidas, provavelmente os animais mais perigosos do planeta.
A escritora Eula Bliss sempre dizia que a paranoia tende a ser contagiosa. Vale ressaltar que, antes da pandemia, a ala intelectual da própria esquerda concordava que esse sentimento se espalhava muito rápido. A escritora estadunidense Eve Sedgwick, teórica de estudo de gênero e teoria queer, afirmou que a obsessão tem um amplo alcance, que ocupa outras formas de pensar e, com frequência, passa por inteligência. Teorizar com base em qualquer coisa que não seja uma postura paranoica passou a ser ingênuo, religioso, complacente ou negacionista.
O professor Paul Slovic, da Universidade de Oregon, em seu livro “The Perception of Risk” diz que as pessoas tendem a acreditar que os acidentes causam mais mortes do que as doenças, assim como o homicídio é mais letal do que o suicídio, quando o oposto é verdadeiro em ambos os casos. A primeira constatação é que a maioria da população está errada sobre as ameaças. A percepção de risco, no entanto, pode ter menos relação com o risco quantificável do que com o medo imensurável. Assim como acontece com outras crenças arraigadas, nossos medos nos são caros e quando encontramos informações que contradizem nossas crenças, tendemos a duvidar das informações.
A bem da verdade é que o medo é viciante, como afirma a Dra. Donna Marks em seu livro “Exit the Maze – One Addiction, One Cause, One Cure”, dizendo que o vício no medo do Coronavírus tem causado mais sofrimento do que o próprio vírus. O fato é que o medo não admite retórica ou racionalidade e com ele surgem explicações e culpados alcançados de forma simplória e limitada.
E se há demanda por medo, com certeza há oferta. Uma pesquisa estadunidense constatou que cerca de 90% das notícias relacionadas à Covid-19 têm tom negativo. Isso inclui a reabertura de escolas e, pasmem: os testes de vacinas. Aqui no Brasil vimos casos semelhantes, como o polêmico “Infelizmente vamos falar de notícia boa”. Independentemente da sua conclusão sobre o caso da jornalista da CNN, uma coisa é certa: via de regra, há preferência em produzir notícias negativas.
Infelizmente, questionar se o número de mortos por covid é culpa exclusivamente de uma única pessoa e qual a metodologia utilizada para se chegar ao número 500 mil, se tornou algo vil aos olhos de quem sofre de Coronafobia ou por quem tem interesses meramente eleitoreiros sem qualquer compromisso pela busca da verdade. Inclusive, um episódio incomum nas televisões brasileiras foi protagonizado pelo jornalista Rodrigo Bocardi, âncora do Bom Dia SP da TV Globo. Ele questiona a contagem de mortos lembrando do triste acontecimento envolvendo o sambista David Corrêa, que foi atropelado e faleceu. David fora submetido a dois testes de Coronavírus e ambos negativaram, ainda assim, o hospital registrou sua causa mortis por Covid-19. E tal qual esse caso, ao longo da pandemia recebi diversos relatos parecidos graças à minha atividade parlamentar de fiscalização.
Olha… Como muitos de vocês sabem, venho investigando a atuação estatal na pandemia desde o início de 2020. Durante a pandemia, realizei 9 denúncias no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro – TCE/RJ envolvendo contratos com fortes indícios de superfaturamento e sobrepreço, firmados com dispensa de licitação. Inclusive sobre fatos que levaram à prisão do ex-secretário da Saúde Edmar Santos, o ex-subsecretário executivo de Saúde, Gabriell Neves e diversos outros corruptos. Fui autor de um pedido de impeachment do então governador Wilson Witzel e, posteriormente, o julguei no Tribunal Especial Misto, dando o sétimo voto que sacramentou seu afastamento definitivo do Governo do Estado.
Nunca deixei que esse clima de pavor tomasse conta do meu gabinete ou da minha atividade parlamentar, afinal de contas, é no seu medo e no desespero que os burocratas corruptos fazem a farra com o seu dinheiro. Um fato que ainda não havíamos divulgado, mas que abro a exclusividade aqui nesse artigo, é que estamos, desde o ano passado, investigando as mortes por intubação no estado do Rio de Janeiro. Já ouvimos diversas testemunhas que trabalhavam em hospitais, fixos e de campanha, e que nos forneceram relatos escabrosos do que era feito no local. Intubação sem anestesia, sem insumos e equipamentos adequados podem ter levado à morte milhares de cidadãos fluminenses. Houve uma onda de mortes causada por negligência, imprudência ou imperícia do profissional médico que não possuía formação ou experiência de intensivista, ou por negligência do gestor que não forneceu os insumos necessários para as devidas intubações.
Esse cenário parece não ser exclusivo do Rio de Janeiro, mas sim nacional, conforme indica a reportagem da BBC que afirma que aproximadamente 80% das intubações em pacientes com Covid no Brasil resultam em mortes (no estado do Rio são 88,3%), enquanto no restante do mundo essa média é abaixo de 50%.
Em momentos difíceis como esse que vivemos, nós temos a necessidade de vencer o medo e buscar enxergar as coisas com clareza. Diante de toda a atuação estatal, restam poucas dúvidas que o Estado brasileiro matou mais do que a Covid-19; portanto, o número de 500 mil mortes não tem como culpado somente o vírus ou o comportamento inapropriado e desagradável do Presidente. A roubalheira deflagrada por gestores do Executivo, somada à negligência de não termos tido uma estrutura adequada de atendimento de saúde e à imperícia e à imprudência do lockdown, que devolveu milhões de pessoas para abaixo da linha da pobreza, com certeza roubariam a cena se estivéssemos vendo as coisas com os olhos críticos e propositivos de Karl Popper, pai da Falseabilidade Científica.
Dados os fatos apresentados nos parágrafos anteriores, é natural questionar o número de 500 mil mortos causados pelo Coronavírus, sua metodologia e quais fatos foram determinantes para que alguém chegasse a esse número. Que fique claro: eu não questiono a gravidade da pandemia, apenas que tenhamos condições de saber o que ela de fato representa. É preciso investigar possíveis subnotificação de casos e hipernotificação de óbitos, muitos deles sem testes que comprovem a contaminação por Covid-19
O pessoal que se ofende com questionamentos também achou absurdo, no início da pandemia, usarmos da lógica primordial para questionar a origem do vírus. Quem questionou foi chamado de negacionista, foi censurado, perdeu suas contas nas redes sociais e, consequentemente, sua voz. Hoje, a investigação existe e tudo aponta para o laboratório de Wuhan, na China, e com determinado envolvimento do Dr. Fauci, criatura macabra e prepotente, que vive repetindo a frase: “ataques a mim são ataques à Ciência”. Inclusive, essa figura macabra foi amplamente utilizada como fonte dos acometidos pela Coronafobia.
O mesmo ocorria com quem questionava a medida irresponsável e anticientífica chamada de “lockdown”. Hoje já se observa que trancar todo mundo em casa, falir comércios e tirar sustento de pessoas não conteve o vírus. Afinal de contas, cá estamos numa terceira onda.
Na melhor das hipóteses um lockdowner pode dizer que não existe consenso científico acerca da eficácia do lockdown em termos práticos, afinal de contas, existem centenas de estudos mundo afora que concluem pela ineficiência e ineficácia da medida restritiva. Quem ousa dizer que existe consenso, está fazendo ecoar a antiga frase: “a Ciência só está certa quando concorda comigo”.
Na História da Humanidade, são fartos os relatos de ódio entre dois lados da Ciência, como por exemplo na morte de Antoine Lavoisier, que refutou as teorias da antiga alquimia e criou a Teoria dos Elementos Químicos. O “negacionista” questionava a produção científica vigente à época, a alquimia, e fora morto por isso. É triste também lembrar que Giordano Bruno foi queimado vivo para, 473 anos depois ainda vemos pessoas tratando a Ciência como religião, vivendo sob dogmas e sentenciando à fogueira social quem ousa questionar.
Infelizmente, o nome da Ciência vem sendo profanado por líderes dogmáticos e de caráter duvidoso, que tentam justificar todos os seus atos abusivos e autoritários na “SSiência”, equiparados aos atos do Terceiro Reich e dos Partidos Comunistas Soviético e Chinês.
Desde sempre a humanidade possui pessoas que estão dispostas a sacrificar suas vidas para conquistar, defender ou exercer a sua liberdade. Foram essas pessoas que conquistaram os maiores avanços sociais; mas, infelizmente, nessa pandemia retrocedemos, e isso culminou na proliferação de outros dois vírus: o do medo e o do autoritarismo, cuja destruição de vidas se deu em nome “bem coletivo” e da “saúde pública”.
A Ciência é feita de questionamentos, não de dogmas. A linha que é usada para costurar o nosso futuro não pode ser reaproveitada para costurar a boca de quem ousa questionar.
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