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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Brasil, o país onde todos são prioritários

Nas últimas semanas, temos acompanhado a polêmica crescente em torno da priorização na fila da vacinação. Além daqueles que atuam diretamente no combate à Covid-19, a prioridade acabou se estendendo também a diversos profissionais da área da saúde que não estão na linha de frente como nutricionistas, fisioterapeutas e veterinários que atendem em clínicas, e não em hospitais. 

Tiago Mitraud | Hoje em Dia

A escolha tem consequências: idosos, que correm muito mais risco de morrer, deverão esperar mais tempo para serem vacinados. Em algumas cidades como Salvador e Rio de Janeiro, não há mais doses disponíveis e idosos de 80 anos seguem sem vacina, mas centenas de jovens biólogos estão imunizados.

Tiago Mitraud (NOVO-MG), Deputado Federal | Divulgação

Como se não bastasse, diversas outras categorias como caminhoneiros, juízes, promotores, políticos e professores também têm reivindicado o direito de serem vacinadas antes dos demais. Isso sem falar naqueles que têm simplesmente ignorado qualquer ordem e utilizado meios escusos para furar a fila, o que inclusive nos levou a aprovar um projeto de lei na semana passada criminalizando a prática.

Infelizmente, o que temos visto na vacinação está longe de ser uma exceção no Brasil, o país de muitas prioridades. Há algumas semanas, em decorrência da saída da Ford do Brasil, seguiram-se longas discussões sobre a necessidade de priorizar alguns setores da economia com subsídios e regras tributárias especiais. O próprio sistema tributário brasileiro é uma colcha de retalhos de tantas exceções e regras diferenciadas.

Temos um problema sério de priorização no Brasil. E a principal consequência disso são políticas públicas caras e ineficientes. Não só isso, a quantidade de grupos e indivíduos priorizados é tamanha que alimenta uma cultura do “salve-se quem puder”. Afinal, esperar a sua vez torna-se ainda mais difícil quando quase todos acreditam que são prioritários. E assim a sociedade vai se tornando cada vez mais disfuncional, indivíduos não se sentem parte de um todo, enxergam o recurso público não como um recurso de todos, mas como um recurso de ninguém, e passam a querer apropriar-se dele antes que outros o façam. Não à toa, temos várias expressões populares nesse sentido no Brasil, como por exemplo “puxar a brasa pra sua sardinha” ou “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Se quisermos viver em um país funcional, com políticas públicas eficazes, então precisamos começar a fazer as coisas de uma forma diferente, e realmente priorizar: vacinar primeiro os idosos, ajudar primeiro os mais pobres, e por aí vai. Só assim poderemos começar a romper esse círculo vicioso, do qual parece estarmos reféns.

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