Por Célio Yano | Gazeta do Povo
Nascida em 1983, Indiara é paranaense de Umuarama, no Noroeste do estado, mas viveu toda a infância, até os 14 anos, em Rondônia. Conta que sua mãe, médica veterinária, e seu pai, engenheiro agrônomo, decidiram tentar a sorte em um território que ainda era novo (o estado foi elevado à condição de unidade federativa em 1981). Em 1997, com a separação do casal, mudou-se para Curitiba com sua mãe e seus dois irmãos mais novos. Estabeleceram-se no Bairro Alto.
Nascida em 1983, Indiara é paranaense de Umuarama, no Noroeste do estado, mas viveu toda a infância, até os 14 anos, em Rondônia. Conta que sua mãe, médica veterinária, e seu pai, engenheiro agrônomo, decidiram tentar a sorte em um território que ainda era novo (o estado foi elevado à condição de unidade federativa em 1981). Em 1997, com a separação do casal, mudou-se para Curitiba com sua mãe e seus dois irmãos mais novos. Estabeleceram-se no Bairro Alto.
Em 2000, fez seu primeiro vestibular, para ciências sociais, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Eu já gostava de política desde a época o colégio”, explica. Nas salas de aula, no entanto, não encontrou exatamente o que esperava. “Eu gostava das disciplinas, mas já comecei a pensar diferente, a questionar as ideias dominantes, digamos assim. Acabei desanimando.”
Ainda em dúvida sobre o caminho que queria seguir, chegou a fazer um curso de culinária, pensando em tornar-se chef de cozinha, mas logo abandonou a ideia. Em 2002 fez um novo vestibular, desta vez para administração, também na UFPR. Paralelamente às aulas, noturnas, trabalhou na JR Consultoria, empresa júnior do Setor de Ciências Sociais Aplicadas da instituição e que presta serviços de consultoria empresarial.
Deixou a JR para começar um estágio no Banco Toyota, onde, na sequência, seria contratada como operadora de financiamentos. “Era o banco da montadora. Eu era responsável por atender as concessionárias, fazendo venda e toda a parte administrativa de financiamentos e seguros”, lembra. Ficou três anos na empresa, para, em 2007, no último ano da faculdade, começar a trabalhar na PwC Brasil, onde faria carreira pelos 13 anos seguintes. “Brinco que ali achei minha vocação, que é ser auditora contábil.”
No ano seguinte, as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) passariam por uma grande revisão, com a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS, na sigla em inglês). “Foi um momento desafiador, de muitas mudanças e muito aprendizado”, conta. Em paralelo ao trabalho, fazia outra graduação, em ciências contábeis, pelas Faculdades Spei. Com um plano de carreira bem estruturado na empresa, foi tendo seu trabalho reconhecido e conquistando promoções ao longo dos anos. Entrou como trainee, no cargo de assistente de auditoria, tornou-se auditora sênior, supervisora, gerente e, em 2019, passou a gerente sênior de auditoria.
Na empresa, foi por nove anos coordenadora da área de responsabilidade corporativa. “Fazemos um calendário de atividades, de campanhas de arrecadação de agasalhos, de brinquedos, de doação de sangue”, exemplifica. “Outra ação bem bacana é uma mentoria para jovens, em parceria com duas ONGs aqui de Curitiba, com aulas de finanças pessoais e introdução ao mercado de trabalho.”
A entrada no partido Novo
“Sempre tive essa inquietação: o que posso fazer para contribuir para melhorar a sociedade?” Interessada em política e economia, aproximou-se do pensamento liberal e identificou-se com as propostas do partido Novo, cujo registro foi deferido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em setembro de 2015. “Em 2017 me filiei, pela internet mesmo, sem conhecer ninguém, porque eu acreditava nas ideias”, diz. Em 2018, passou a comparecer às reuniões do partido. “Tinha vontade de ser candidata, mas mais para frente. Meu projeto era mais de longo prazo, de entrar para a política quando fosse mais velha.”
Mas aí surgiu o convite para participar do processo seletivo do partido para se lançar ao cargo de deputada federal. “Foi muito com essa ideia de que eles precisavam de gente nova, que não tinham candidatos e que, se a gente quer mudança, precisamos nos envolver.” Não foi uma decisão fácil. Indiara tinha planos de chegar a um cargo de diretoria na companhia em que trabalhava. Participava de grupos de discussão de gênero, onde se debatia formas de aumentar a participação feminina em cargos de liderança. “No fim, a vontade de mudar a política foi mais forte”, afirma.
Passou na seleção do partido e conseguiu uma licença não remunerada do trabalho por quatro meses. Foi selecionada ainda como uma líder do movimento Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), o que deu a ela uma base para estruturar sua campanha. Concentrou a divulgação de sua candidatura em Curitiba, fazendo poucas incursões pelo interior, principalmente para acompanhar o então postulante à Presidência da República pelo partido João Amoêdo.
Com 30.957 votos, foi a candidata mais votada da sigla no Paraná, mas não conseguiu se eleger. Apesar disso, considera o resultado positivo. “Eu era de fora da política, o partido era novo, a chapa era pequena e fizemos uma campanha em um período muito curto e com pouca arrecadação.” Entre os eleitores de Curitiba, recebeu 18.988 votos, ficando entre os dez candidatos mais votados na cidade.
Indiara brinca que o pós-eleição foi como quando teve seu filho, Luigi, hoje com 7 anos: “todo mundo querendo dar palpite, dizendo o que você tem que fazer”. “Recebi sugestões de ser candidata a deputada novamente, vice-prefeita, e até propostas profissionais, fora da política”, conta. “Mas acredito que a gente precisa de políticos melhores em todas as esferas e considerei que minha experiência profissional e minha formação acadêmica poderiam ser úteis para o cargo de vereadora.”
Voltou à empresa da licença em novembro de 2018, e foi amadurecendo a ideia. Em 2019 começou a planejar a nova candidatura, paralelamente às suas atividades profissionais. Naquele ano começou um curso para Chief Financial Officer (CFO) do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Paraná (Ibef-PR), em parceria com a Universidade Positivo, e foi eleita conselheira do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná (CRC-PR). Também foi aluna dos cursos de formação do RenovaBR, voltados à capacitação de novas lideranças políticas, na modalidade Cidades, em 2019, e Legislativo, em 2020, além de fundar o Instituto de Formação de Líderes (IFL).
A vereadora mais votada de Curitiba
Na eleição municipal de 2020, com 12.147 votos, não foi apenas a vereadora mais votada de Curitiba, como a primeira mulher a ocupar o topo do ranking de votação em uma eleição para o legislativo na história da cidade. “Trabalhamos para que fosse uma campanha competitiva, para eleger pelo menos dois candidatos e, pelo tracking, achamos que estaríamos entre os primeiros, mas não esperava ser a mais votada.” O segundo lugar nessa eleição, Serginho do Posto (DEM), vereador reeleito, fez 10.061 votos – 2.086 a menos que Indiara.
Uma semana após a eleição, seu nome repercutiu nacionalmente, mas por outro motivo. Em um vídeo do canal Porta dos Fundos, uma personagem dizia ter sido a candidata a vereadora mais votada de Curitiba, pelo Novo, após ter relações sexuais com líderes do partido e vazar fotos íntimas propositadamente. O episódio gerou críticas de todos os lados e levou o canal a remover o conteúdo. “Em um primeiro momento, fiquei chateada, porque foi um vídeo pesado e que não tem nada a ver com a minha história. Mas, em seguida, entendi que, quando você é candidata e se propõe a entrar na vida pública, está exposta a esse tipo de coisa. Até falamos: isso é só o começo. Porque chegamos com uma eleição significativa e estamos incomodando. Estamos prontos para lidar com esse tipo de coisa da melhor forma. No fim, acabei ficando mais conhecida ainda.”
Na Câmara Municipal, Indiara e a segunda eleita do Novo, Amália Tortato, adotarão um posicionamento independente, seguindo a diretriz do partido em todas as Casas legislativas em que tem representantes. Entre suas prioridades estarão o empreendedorismo, a educação básica e a inovação. “A questão do empreendedorismo tem a ver com melhorar o ambiente de negócios, com uma frente de desburocratização para quem empreende”, explica. Na educação básica, seu foco está relacionado à gestão. Quer propor modelos mais eficientes com parcerias com a iniciativa privada e com o terceiro setor. Já em relação à inovação, vai propor um mandato mais eficiente, com práticas da iniciativa privada, participação popular por meio de um aplicativo, e distribuição de emendas parlamentares por critérios técnicos, por meio de um edital de seleção de projetos.
“Mas minha principal atividade será a fiscalização, que tem relação com o que eu faço na iniciativa privada”, diz. “Vereadores com quem já conversei falam que falta conhecimento de finanças a eles. Meu objetivo é contribuir com esse meu conhecimento. Acredito que quando se fiscaliza bem, combatemos os principais problemas da gestão pública: a corrupção, a má gestão de recursos e o inchaço da máquina.”
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