Por Juliana Siqueira | Diário do Comércio
Embora a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/20 e o Projeto de Lei Complementar (PLC) 46/20, enviados pelo governador Romeu Zema (Novo), estão provocando diversos debates, com diferentes visões, uma necessidade urgente tem sido urgente pela atenção dos profissionais: Minas Gerais, assim como outros estados, precisa tomar medidas para o equilíbrio fiscal.
Embora a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/20 e o Projeto de Lei Complementar (PLC) 46/20, enviados pelo governador Romeu Zema (Novo), estão provocando diversos debates, com diferentes visões, uma necessidade urgente tem sido urgente pela atenção dos profissionais: Minas Gerais, assim como outros estados, precisa tomar medidas para o equilíbrio fiscal.
A PEC 55/20 e o PLC 46/20, de autoria do governador Romeu Zema, foram apresentados no mês passado na Assembleia e vem gerando intensos debates | Crédito: Guilherme Dardanhan - ALMG |
Como isso se dará, inclusive com a reforma da previdência, ainda é incerto. Tanto é que na última quinta-feira a ALMG entregou ao secretário de Estado do Governo, Igor Eto, e ao Secretário de Planejamento e Gestão, Otto Levy, um documento feito com contribuições de sindicalistas, que contém 244 propostas e mais de 300 páginas para modificações no texto atual.
Ao que tudo indica, como discussões após o estudo do material vai começar no início do mês de agosto, assim como a apresentação de emendas possíveis, mesmo que muitos envolvidos, parlamentares inclusivos, têm se colocado a favor do não debate durante a pandemia do Covid-19.
A agilidade de discussão e aprovação, porém, tem sido defendida por diferentes nomes, que expõem a situação de calamidade financeira no qual se encontrar o Estado. Levy, durante o Seminário Virtual Reforma da Previdência de Minas Gerais, que foi realizado de 13 a 16 de julho na ALMG, disse que "adiar a solução é apenas piorar o problema". O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Aguinaldo Diniz Filho, também afirma que Minas Gerais precisa urgentemente da aprovação da reforma da previdência.
"A reforma da previdência de Minas Gerais, em minha opinião, é absolutamente importante e necessária. Segundo dados que levantei, 80% da receita corrente líquida do Estado está sendo destinada a pagar servidor ativo e inativo. O trabalho do servidor é fundamental, pois sem ele o País não anda e não cumpre suas obrigações. Porém, estamos em uma situação fiscal em Minas e no País da mais alta dificuldade. Temos de pensar no amanhã", destaca ele.
Situação difícil
Para Diniz Filho, o maior beneficiado, aliás, será justamente o servidor público, pois o Estado, diz, chegar em uma situação de não ter condições de pagá-los. Porém, defende ele, os resultados positivos vão além disso e tem a ver com vários fatores macroeconômicos.
"A primeira consequência é a melhoria do déficit fiscal. O governador Romeu Zema herdou uma situação difícil, piorou com o Covid-19. Vamos passar por uma transição econômica muito difícil, com muito desemprego. Isso é um problema sério socialmente falando. Se a gente tem uma reforma dentro dos moldes negociáveis, vamos ter um Estado mais robusto, que pode garantir o pagamento do servidor e fazer suas atividades básicas", avalia.
Para o presidente da ACMinas, é importante fazer o máximo para que ocorra o ajuste fiscal de Minas Gerais. "Se não, o Estado passa a ser o gerenciador de uma grande folha de pagamento e que não é a função do Estado", argumenta.
"Quando o governo gasta, ele auxilia no crescimento do PIB. Mas, mais do que isso, são os outros impactos, como a capacidade do Governo de atrair investimentos e não de afugentá-los", afirma.
"A primeira consequência é a melhoria do déficit fiscal. O governador Romeu Zema herdou uma situação difícil, piorou com o Covid-19. Vamos passar por uma transição econômica muito difícil, com muito desemprego. Isso é um problema sério socialmente falando. Se a gente tem uma reforma dentro dos moldes negociáveis, vamos ter um Estado mais robusto, que pode garantir o pagamento do servidor e fazer suas atividades básicas", avalia.
Para o presidente da ACMinas, é importante fazer o máximo para que ocorra o ajuste fiscal de Minas Gerais. "Se não, o Estado passa a ser o gerenciador de uma grande folha de pagamento e que não é a função do Estado", argumenta.
"Quando o governo gasta, ele auxilia no crescimento do PIB. Mas, mais do que isso, são os outros impactos, como a capacidade do Governo de atrair investimentos e não de afugentá-los", afirma.
Desajuste fiscal afeta a competitividade do Estado
A gerente de economia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Daniela Brito, acrescenta mais um ponto em relação à necessidade de aprovação da reforma previdenciária para o bom andamento da economia do Estado: o desajuste fiscal traz sérias implicações nas mais diferentes áreas, o que prejudica a sociedade civil e as empresas.
"Um desajuste fiscal do tamanho que tem o Estado de Minas limita ou inviabiliza a capacidade do Estado de prover recursos de forma adequada, como infraestrutura, atendimento hospitalar e segurança. Esse ambiente de deterioração dos serviços públicos não afeta apenas a sociedade civil. Muitas empresas se veem prejudicadas", salienta ela.
Daniela Brito lembra que as organizações dependem de serviços públicos de qualidade até mesmo para que elas possam manter a produtividade. "Se há uma infraestrutura inadequada, problemas de mobilidade urbana, nível de violência elevado, como empresas instaladas no Estado perdem em produtividade e em competitividade", afirma.
Mestre em administração pública e pesquisador da Fundação João Pinheiro (FJP), Reinaldo Morais também destaca que resolve a questão do déficit, Minas Gerais poderia aumentar os investimentos em outras áreas, como em obras de instalação e na melhoria de rodovias, o que contribui para a competitividade da economia mineira.
"Minas Gerais tem uma estrutura rodoviária de péssima qualidade, principalmente comparada a São Paulo", diz ele, lembrando que isso impacta, inclusive, o agronegócio, que poderia prosperar mais se os investimentos fossem alocados nesse sentido.
Para Morais, a reforma da previdência faz todo sentido para melhorar as finanças, principalmente no que diz respeito ao tempo de contribuição dos servidores. O texto atual defende um acréscimo de sete anos para as mulheres e de cinco anos para os homens.
"O aumento da alíquota não tem tanto efeito no combate ao déficit, mas mudar a idade mínima, de 65 anos para os homens e de 62 anos para as mulheres, sim, para o equilíbrio financeiro do Estado em longo prazo", diz.
Diante de todas as possibilidades positivas com a reforma da previdência, a gerente de economia da Fiemg, Daniela Brito, toca em mais um ponto de grande importância para o Estado e para o País: o Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com ela, os números podem aumentar nesse sentido.
Análise exige cuidado, aponta pesquisador
Apesar de muitos profissionais defensores em que a reforma da previdência gera ganhos para a economia, o pesquisador e professor do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) Thiago Santos destaca que é importante ter cuidado para fazer essa análise. Para ele, não há como creditar uma automática dos indicadores macroeconômicos à reforma, mesmo com o equilíbrio fiscal.
"A importância da reforma da previdência se dá para o equilíbrio fiscal. Não existe certeza de que vai gerar impacto na economia em geral. A reforma também vai afetar a renda das famílias, reduzindo-a, o que afeta o consumo de forma negativa", afirma.
O professor da UniBH também destaca que, atualmente, Minas Gerais tem um déficit que pode chegar a R$ 20 bilhões neste ano, portanto, não está sobrando recursos. "Estamos falando da tentativa de superar esse déficit, não de substituir um gasto pelo outro. Não é que sobraria dinheiro. Não é uma verdade posta que seria possível investir uma vez que a gente economiza com a previdência", destaca.
Para Santos, é importante debater a reforma para todos entender os pontos que ela afeta. "Em economia, nada é como parece. Tudo tem afetações mais amplas do que as simplificações que, por vezes, a gente tenta fazer".
De acordo com o professor, a reforma provoca, sim, um alívio nas contas do Estado, que não pode ter dinheiro para arcar com as suas responsabilidades daqui a um tempo. No entanto, diz, também pode provocar impactos na cadeia que não são necessariamente positivos.
Atração de investimentos pode aumentar
A atração de investimentos é outro benefício que invariavelmente é atribuído à aprovação de uma reforma da previdência estadual. Para o mestre em administração pública e pesquisador da Fundação João Pinheiro (FJP), Reinaldo Morais, isso realmente pode ocorrer.
Conforme ele, uma das formas que o Estado tem de convencer uma empresa a se instalar no local justamente o benefício tributário, embora este não seja o único atrativo. E isso está ligado à capacidade do governo estadual oferecê-lo.
"A tomada de decisão da empresa para se não instalar leva em conta apenas o aspecto fiscal, mas também a qualidade de mão de obra. No caso do Estado de Minas Gerais, ele é favorecido pelo número alto de universidades", frisa.
Como empresas também observam os custos que terão no Estado, lembra o pesquisador. Nesse caso, Minas Gerais não pode estar se saindo tão bem como poderia, pois, destaca Morais, tem um grande gargalo de escoamento da produção, o que pode ser modificado pelo meio de mais investimentos.
"Um aspecto importante é o custo logístico em Minas Gerais. Perdemos bastante em competitividade se comparado a São Paulo, por exemplo. Ao alocar investimentos para essa área, o governo pode promover a chegada de mais empresas", diz.
Além disso, se o déficit diminui, a probabilidade de o Estado aumentar os impostos é menor, observar Morais, o que também é avaliado pelas empresas.
Essa questão também é abordada pela gerente de economia da Fiemg, Daniela Brito, que destaca que uma má situação financeira do Estado e suas possíveis medidas por causa disso podem fazer com que as empresas não tenham interesse em se instalar por aqui.
"Hoje, com o Jornal O Estado devendo fornecedores e atrasando salários de funcionários, não pode mais tomar recursos da União e dos bancos, a capacidade de endividar está esgotada. O que sobra: um aumento da carga tributária, o que afasta investidores. O Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) de Minas Gerais já está elevado", pontua ela.
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