Mateus Parreiras | Estado de Minas
Minas Gerais é o estado brasileiro que tem mais controle sobre a COVID-19, enquanto Belo Horizonte só perde para Florianópolis entre as capitais. É o que mostra o ranqueamento (veja a tabela) do aplicativo Farolcovid, que reúne e analisa dados oficiais do Ministério da Saúde e de secretarias municipais e estaduais da área, entre outros.
A ferramenta foi criada por especialistas das áreas médica, física, política, matemática e engenharias da ONG sem fins lucrativos Impulso, com o objetivo de auxiliar gestores públicos e privados a saber qual a situação de domínio da epidemia em sua localidade. Apesar do bom desempenho verificado em resultados da última quinta-feira, os índices e os especialistas apontam para a continuidade da disseminação da doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) em todos os estados e capitais.
São quatro os principais indicadores do Farolcovid. O primeiro é o ritmo de contágio da doença, que utiliza um fator chamado “RT” para calcular quantas pessoas são infectadas pelo vírus para cada novo caso positivo. Em seguida, utiliza-se uma estimativa matemática de subnotificação, que chega aos casos fora das estatísticas a partir dos índices de mortes confirmadas, em torno de 2% dos doentes hospitalizados.
O terceiro indicativo é a capacidade hospitalar, que projeta quantos dias se levaria no compasso de infecção atual para que o sistema de saúde entrasse em colapso por falta de estrutura. Por último, a ferramenta mostra qual o grau de adesão ao distanciamento social daquela comunidade.
A multiplicidade de informações como as do Farolcovid e a sua confiabilidade são fundamentais para a tomada de decisões e o controle da epidemia, afirma o médico Marcio Sommer Bittencourt, pesquisador da USP/Hospital Albert Einstein. “Não se pode falar numa situação única nem no Brasil e nem mesmo dentro de Minas Gerais. Há regiões com progressões diferentes. BH é de um jeito, Juiz de Fora de outro, o Triângulo também. No estado, a doença ainda está no começo, foi retardada pela realidade local e as medidas que foram tomadas, mas tem de seguir os próximos passos isolando casos confirmados, seus contatos e suspeitos para cercar o vírus”, afirma.
Somente com informações precisas é que se poderia iniciar processos de abertura, afirma o médico. “Todo planejamento para fechar e abrir atividades depende de cada região, pois dentro do estado as regiões têm comportamentos e estão em momentos diferentes da epidemia”, destaca Bittencourt.
O ritmo de contágio utilizado pelo Farolcovid tem como indicador o fator RT, que é uma estimativa de quantas pessoas transmitem o vírus em média num determinado local. O fator RT igual a 1 ou maior significa que a transmissão está ativa. No caso de Minas Gerais, o fator RT, de 1,4, significa que cada novo caso infecta em média outras 1,4 pessoas, ou seja, 10 transmitem para 14, 100 para 140 e assim por diante. Com esse desempenho, o estado é o 5º em transmissão. Em Belo Horizonte, o índice é de 1,3, que posiciona a capital mineira no 6º lugar.
Os bons desempenhos na comparação com os demais estados da Federação e capitais não podem fazer com que as medidas de contenção sejam afrouxadas. O primeiro motivo é justamente pelo ritmo de contágio revelar que a doença ainda está ativa e em transmissão. A outra razão é que pode já ter havido uma regressão na seriedade de como se encaram as medidas de bloqueio de contágio, uma vez que, pelas estimativas logarítmicas da Fiocruz e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que têm trabalhos de monitoramento desses índices, desde 30 de maio o RT de Minas Gerais deveria ter caído abaixo de 1, chegando a 0,7 nessa data e a 0,2 em 2 de julho, o que indicaria o fim da transmissão da doença.
Contudo, a taxa mineira não obedeceu a essa previsão científica e se manteve irregular, chegando mesmo a ter recuos abaixo de 1 entre 12 e 14 de abril, 20 e 21 daquele mês, de 8 a 10 de maio e no dia 17 do mês passado, sempre retornando ao patamar de continuidade da transmissão. Os piores picos foram registrados no mês de maio, com cada um dos infectados e doentes mineiros chegando a propagar a COVID-19 a quase duas pessoas (1,9) nos dias 13 e 21. Em Belo Horizonte, onde a taxa atualmente é de 1,3, segundo o levantamento, o ritmo de contágio caiu abaixo da linha de disseminação por seis dias após 16 de abril, mas retornou com sua escalada de contágio no dia 23 daquele mês.
Manter o isolamento é desafio
Um dos desafios para manter o controle da epidemia é conseguir que a população permaneça em afastamento social, uma vez que esse índice tem caído sistematicamente. Ao se avaliar, por exemplo, a taxa de distanciamento social em Minas Gerais, é perceptível que nos primeiros dias ocorreu uma grande adesão.
Quando o primeiro caso foi identificado, em 16 de março, e as aulas foram suspensas, o índice de pessoas em afastamento era de 30%. Na sexta-feira seguinte, 20 de março, quando foi decretado estado de calamidade pública no estado, chegou-se a um patamar de 39%. O sábado, dia 21, primeiras 24 horas de distanciamento pleno, chegou a registrar 51%, e o domingo alcançou o pico histórico do estado, com a estimativa de que 62% dos mineiros estavam em suas casas. Depois disso, os picos começaram a cair e, com a flexibilização de comércios e atividades já ocorrendo em várias cidades. A última sexta-feira de maio, dia 29, atingiu a menor adesão desde que o decreto foi editado, com 36% de apoio.
Em Belo Horizonte, essa tendência também se observou, com maior volume de apoio. O dia 16 registrou 31% de distanciamento; na data do decreto, dia 20, chegou a 42%; o primeiro sábado fechou em 55%; e o domingo em 64%, sendo também esse o pico de aderência ao afastamento social. Após a flexibilização do comércio, em 25 de maio, esse índice já rondava 42%, chegando ao pior patamar de apoio também no dia 29, com 38%.
Sobre os pontos fracos de todo o estado, como a subnotificação e a adesão ao distanciamento que vem caindo, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) afirma ter mecanismos ativos para melhorar os índices. “A SES-MG entende que em qualquer epidemia, de qualquer lugar do mundo, há uma diferença entre a notificação e a realidade, até mesmo porque há muitas pessoas que têm a doença e não sentem nada e não procuram o serviço médico”. A administração da saúde estadual destaca que mesmo quando os testes são feitos, geram subnotificação. “Os exames têm, em média, uma acurácia de 30% a 70%. Então, mesmo fazendo exames, haveria um grau de subnotificação. Desse modo, ressaltamos que o número de óbitos em Minas Gerais é relativamente pequeno em relação a uma pandemia tão grande e nosso sistema de saúde está adequado.”
Sobre o isolamento, a secretaria informa que não tem acesso aos dados das demais unidades federativas, mas entende ser essencial. “Sem distanciamento é impossível a adequação de qualquer capacidade assistencial à saúde. O distanciamento tem por objetivo permitir que ajustemos a necessidade de leitos dos pacientes COVID-19 à situação de leitos reais. O estado está fazendo esforços para aquisição de respiradores e habilitação de leitos de UTI, mas essas medidas são empregadas em regime de coordenação de atividades, que não dependem exclusivamente de uma única ação, mas de um conjunto delas. Por isso, é necessário o isolamento social e adesão ao Minas Consciente.”
A secretaria destaca também a necessidade de coesão nos esforços de distanciamento. “Há diálogos constantes junto aos municípios, para que façam a adesão ao Minas Consciente e sigam as orientações do Plano de Contingenciamento Macrorregional. O Minas Consciente foi criado para auxiliar os municípios na retomada gradual das atividades e serviços, respeitando sempre um sistema de critérios rígidos e protocolos sanitários, para garantir a segurança dos cidadãos. Todas as ações propostas pelo governo de Minas são baseadas em dados técnicos e científicos.”
Boas posições em relação ao tamanho da população
Felipe Quintella*
Belo Horizonte e Minas Gerais estão em posição melhor que a maioria dos estados e capitais no número de casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus e mortes por COVID-19 a cada milhão de habitantes. A capital aparece em 24º lugar e o estado em 26º nos dois recortes de números epidemiológicos, segundo uma tabela que usa dados do Ministério da Saúde compilados até quinta-feira (4/6). A tabela foi postada no Twitter pelo ex-secretário executivo do Ministério da Saúde e atual chefe do Centro de Contingência do Coronavírus do estado de São Paulo, João Gabbardo.
Com 853 casos confirmados por milhão de habitantes naquele dia, Belo Horizonte aparece na 24ª colocação entre as 27 capitais nesse quesito e é a mais controlada entre as 10 maiores. A Prefeitura de BH, no boletim epidemiológico desse dia, confirmava um total de 2.144 casos. Ontem, o total era de 2.304. Um dos principais epicentros da pandemia no país, a cidade de São Paulo ficou na 14ª colocação, com 5.660, e o Rio de Janeiro na 15ª, com 5.015.
Com 22 mortes por COVID-19 a cada milhão de habitantes, BH também aparece na 24ª posição na lista das capitais no quesito óbitos. Em 4 de junho, a prefeitura da capital mineira confirmava um total de 55 mortes pela doença na cidade (ontem, eram 57). Belém aparece no topo da lista, com 1.016 mortes por milhão, seguida por Fortaleza (908) e Recife (715). Com 630 óbitos a cada milhão de pessoas, a cidade do Rio de Janeiro é a quinta colocada, enquanto São Paulo, com 381, é a sétima. Campo Grande, com 8 mortes por milhão, tem a situação mais leve quando se olham os números por esse ponto de vista.
Segundo os números, na quinta-feira, Minas Gerais era o segundo estado com menos casos confirmados por milhão de habitantes, com 616, atrás apenas do Paraná, que tinha 509. Nesse dia, o boletim epidemiológico da Secretária de Estado de Saúde contabilizava 13.034 casos no estado. Ontem, o número era de 13.995.
O Amapá lidera a lista entre os estados em relação à população, com 13.658 casos por milhão de habitantes, seguido pelo Amazonas (11.213) e o Acre (7.961). Os dois estados mais afetados em números absolutos pela pandemia no Brasil ficaram mais abaixo na tabela. São Paulo na 17ª posição, com 2.814 casos a cada milhão, e o Rio de Janeiro, com 3.567, na 14ª.
Com 323 mortes até quinta-feira (344 ontem), Minas Gerais estava na 26ª colocação na relação mortes por milhão de habitantes na quinta-feira, com um índice de 15. O Amazonas lidera, com 527 mortes a cada milhão de pessoas. São Paulo fica em 9º lugar, com 186. O país tinha 162 mortes a cada milhão até 4 de junho.
Polo Branca (Masculina) |
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