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terça-feira, 31 de março de 2020

Zema diz que Minas Gerais vai dobrar capacidade para fazer exames de coronavírus até esta quarta-feira

Governador deu entrevista exclusiva ao MG1 e falou também sobre flexibilização do isolamento social, em estudo.


Por Cristina Moreno de Castro | G1 Minas — Minas Gerais

O governador Romeu Zema concedeu entrevista exclusiva ao MG1 nesta terça-feira (31), em que comentou sobre a realização de exames para diagnosticar coronavírus no estado, falou sobre o estudo que está sendo feito para reabrir alguns setores da economia e respondeu à denúncia de que muitos profissionais de saúde estão trabalhando sem equipamentos de segurança.

Governador Romeu Zema em entrevista ao MG1 — Foto: Reprodução/Globo
Governador Romeu Zema em entrevista ao MG1 — Foto: Reprodução/Globo

A entrevista ocorreu no mesmo dia em que a Secretaria de Estado da Saúde (SES) confirmou a segunda morte causada pelo novo coronavírus em Minas Gerais. Outras 40 mortes são investigadas no Estado, que já tem 275 casos confirmados.

Veja a seguir os principais pontos de sua entrevista.

Exames de diagnóstico

O governador disse que levou uma força-tarefa da Secretaria de Estado da Saúde para ajudar nos trabalhos de testes de diagnóstico do coronavírus que são feitos pela Fundação Ezequiel Dias, a Funed. Segundo ele, a fundação vinha realizando 200 exames por dia e, até esta quarta-feira (1º) passará a ter capacidade para fazer 400 exames, podendo chegar, em "dois a três dias", a 1.800 testes por dia após o treinamento do pessoal que chega para reforçar.

"Essa quantidade de exames que é feita diariamente vai no mínimo dobrar de hoje para amanhã e com previsão de aumentar mais ainda. Já convocamos laboratórios privados para que também passem a fazer esses exames."

Além disso, segundo Zema, um primeiro lote de 500 mil exames, de um total de 5 milhões, desembarcou no país na manhã desta terça-feira (31) para ser distribuído pelo governo federal aos estados.

"Minas vai receber cerca de 40 mil deses exames. Esse exame está em falta no mercado, a pessoa consegue encontrá-lo mas por um valor extremamente elevado. Estamos tomando todas as medidas que estão ao nosso alcance."

Ele destacou que outros estados têm muito mais casos suspeitos e de pessoas contagiadas do que Minas Gerais, sendo, portanto, prioritários para o envio desses testes.

"Nossa situação, proporcionalmente a outros Estados, é menos pior. Não estamos em condição de falar 'melhor'. Porque tomamos medidas preventivas, com antecedência, e os casos estão avançando em velocidade muito menor que em outras regiões do Brasil. Nossas aulas foram suspensas antes de São Paulo. Tudo isso tem contribuído para que nossa curva não esteja tão inclinada para cima e os novos casos que têm sido mostrados diariamente comprovam isso."

Reabertura do comércio

Perguntado sobre o anúncio feito por ele de que o governo vai estudar, a partir desta semana, alternativas para reabertura de empresas de alguns setores estratégicos, Romeu Zema disse que vai preservar, "acima de tudo, a vida humana". "É nossa prioridade número 1, isso tem que ficar muito claro".

Ele disse que haverá uma seleção, de acordo com as especificidades de cada setor, município ou estabelecimento:

"Um estabelecimento comercial onde trabalham duas pessoas e tem 10 m² não vai ter o mesmo tratamento de um cinema ou uma sala de eventos que comportam 800 pessoas".

Um dos segmentos que ele destacou seria o das assistências técnicas.

"Precisamos das assistências técnicas. Tem caminhão parado porque falta lona de freio. As assistências técnicas precisam estar funcionando. Porque tratores que estão plantando ou colhendo pararam. Toda essa cadeia produtiva de alimentos não pode parar. Apareceram muitas reclamações de caminhões parados e tratores sem poder operar, e isso é muito perigoso. Daqui a pouco o alimento fica escasso e mais caro, tenho certeza que não é isso que a população quer".

Questionado sobre críticas de especialistas da saúde para essa possível reabertura de comércios, Zema disse que as encara com "naturalidade".

"Estamos fazendo todo um estudo com embasamento, e não com achismo, e tenho certeza que esse médico preferiria que algumas oficinas estivessem abertas do que milhões de pessoas fiquem sem alimento. Não estou reabrindo lojas de perfumaria, de calçados ou de joias, isso tudo pode aguardar – e vai aguardar num segundo momento. Mas o que é essencial ao ser humano eu não vou deixar faltar. Não quero que falte nem alimento no supermercado e nem medicamento nas farmácias. Para isso, tenho que dar condição de o agricultor trabalhar. Estou tomando medidas, mas com muito critério e muita responsabilidade."

Proteção a profissionais da saúde

Romeu Zema disse que tem feito "de tudo" para adquirir equipamentos de proteção individual, como máscaras, para os profissionais de saúde.

"Neste frenesi todo, eventualmente pode estar havendo alguma falta em algum lugar do estado. Produtos sumiram do mercado e muitas vezes estão com preço lá em cima. Várias indústrias estão se adequando par produzir esses produtos. É questão de dias para que esse fornecimento melhore muito e venha a ser normalizado. Mas estou ciente dessas dificuldades".

O governador destacou que "o profissional de saúde, neste momento, é quem tem que receber maior proteção, inclusive porque cabe a ele salvar vidas".

Economia e impacto para o servidor

Segundo o governador, a arrecadação vai ser R$ 7,5 bilhões menor neste ano, de acordo com a previsão dos economistas, e já haverá grande redução em abril.

"Nossa previsão para este ano em Minas Gerais, caso se confirme o que os economistas estão prevendo de pior, é de redução de R$ 7,5 bilhões na arrecadação, o que representa duas folhas de pagamento do estado. Pode comprometer ainda mais nossas finanças, que já estão bastante ruins."

Segundo ele, seria "prematuro" falar agora sobre o impacto disso nos salários dos servidores. "Vamos esperar por volta do dia 15, que é quando esses recursos entram, para termos uma previsão".

Ele disse ainda que "a situação financeira do estado está deteriorando de forma acentuada", em cenário parecido com o de outros estados".

"O nosso caso é pior, porque já era um estado insolvente, doente. Sempre vai ter um reflexo no serviço prestado à população, são escolas que deixarão de ser reformadas".

Importância do isolamento

O governador também defendeu as medidas de isolamento social, que são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. Ele ponderou que é preciso "tratar de forma diferente cidades diferentes".

"Mas que temos que tomar medidas de isolamento, temos. O grau delas é que pode variar. Toda medida está priorizando a vida humana".

O governador se esquivou da pergunta sobre qual é sua opinião a respeito da defesa que o presidente Jair Bolsonaro faz de reabrir os comércios e restringir o isolamento social apenas a pessoas com mais de 60 anos. Disse que seu "relacionamento com governo federal sempre foi bom, transparente e respeitoso". E concluiu, sem citar o nome do presidente:

"Tenho procurado seguir opiniões de especialistas, e tenho seguido a opinião de pessoas especialistas em epidemias, para fazermos o melhor para o povo mineiro. É isso que tem sido feito".

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