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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Funed apresenta trajetória feminina na ciência em Minas Gerais

Pesquisadoras na instituição respondem, hoje, por 72% do quadro de profissionais


Agência Minas

As pesquisadoras desempenham papel fundamental nas comunidades de ciência e tecnologia e sua participação deve ser fortalecida. Na Fundação Ezequiel Dias (Funed), por exemplo, elas são maioria. Dos 215 pesquisadores, 72% são mulheres que desenvolvem pesquisas em saúde pública, biotecnologia, desenvolvimento de medicamentos, biologia e qualidade de vida no trabalho, além de atuarem em projetos de divulgação científica.

Luciana nutre o espírito pesquisador desde a infância (Crédito: Divulgação ACS/Funed)

Em nível estadual, elas também predominam. Dos 1291 pesquisadores de pós-graduação bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), 61% foram mulheres no ano passado.

Mulheres cientistas

Por trás desses números, existem trajetórias inspiradoras de pesquisadoras iniciantes a doutoras. Uma dessas histórias é o da doutora em biologia celular da Funed, Luciana Silva. A pesquisadora revela que, desde nova, sempre foi muito curiosa, dona de uma vontade de desvendar o universo, os seres vivos e o meio ambiente.

“Quando criança, tinha o hábito de ficar olhando o céu. Eu era uma menina que tinha curiosidade sobre as estrelas, os animais e como as coisas funcionavam. Meus pais queriam me dar bonecas e eu não estava interessada nelas, eu queria um kit de química, eu queria um microscópio”, conta.

Apaixonada por células, Luciana já foi para escola querendo entender como funcionava essa unidade que forma todos os seres vivos. “Por isso eu acho que nasci cientista sem saber. Eu me perguntava como a célula é capaz de formar tantos seres vivos diferentes e porque ela é também capaz de adoecer as pessoas”, diz.

Hoje, Luciana estuda os aspectos moleculares e celulares do câncer humano, em especial o feminino. É sócia-fundadora das startups OncoTag e CELLType, que atuam na pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços oncológicos.

Na trajetória profissional, a pesquisadora destaca que enfrentou muitas dificuldades e desconfiança quanto ao seu trabalho, e afirma que isso ocorreu principalmente pelo fato de ser mulher e negra.

“Você vai a um congresso sozinha e ninguém fala com você. Ninguém está ali disponível até você mostrar que sabe o que está falando”, observa. “Em muitas reuniões só há homens e eles querem impor as suas decisões. E eu tinha que aumentar o meu tom de voz. É muito ruim você pensar que, para ser respeitada, é preciso deixar de ser feminina, ser dura e se afastar de você mesma. Eu tinha que provar que tinha qualidade, que eu era competente e, para isso, eu trabalhava demais”, ressalta.

Um grande desafio para as mulheres, apontado pela pesquisadora, é a maternidade, momento no qual, naturalmente, é reduzida a produção científica. “Já vi casos de pesquisadoras que tiveram que voltar a trabalhar ainda amamentando”, lembra.

Meninas na ciência

Mais um exemplo de que o despertar para a ciência surge desde cedo é o da bolsista do programa de iniciação científica Ana Paula Ferreira da Cruz, que teve contato com a pesquisa científica nos laboratórios da Funed, pela primeira vez, aos 14 anos.

Orientada pela doutora em Ciências da Saúde, Carolina Moreira, seu trabalho “Identificação de agrotóxicos em folhas de maracujá comercializadas no Mercado Central de Belo Horizonte” foi reconhecido com o segundo lugar no Prêmio Carlos Ribeiro Diniz, realizado pela fundação, e em primeiro na apresentação de pôster no Simpósio Brasileiro de Farmacognosia.

A jovem cientista conta que sempre foi muito curiosa e gostava de ciência. A experiência na Funed foi importante para que Ana escolhesse o curso Técnico de Química. Mesmo assim, ela reforça que nem tudo são flores e que, em alguns momentos, é preciso lidar com a frustração nesse campo.

“Se você gosta da ciência, a pesquisa irá te satisfazer muito. Porém, às vezes é decepcionante, os resultados não saem como você pensa. Mesmo seguindo todos os procedimentos corretamente, os resultados não saem como esperado”, relata. O desafio, no entanto, não impede a recomendação. “A iniciação científica é uma oportunidade para ter contato com a pesquisa, é importante os jovens que querem seguir essa carreira ficarem atentos às oportunidades, bolsas e editais das instituições”, afirma.

Tanto para Luciana, como para Ana a inspiração para seguir a vida acadêmica veio das professoras. “Gosto também de salientar que, desde que conheci a célula, eu tive um bom professor. Um bom docente determina a carreira da gente”, reforça a pesquisadora Luciana Silva.

Cientistas na Funed

Em todas as Diretorias da Funed há pesquisadoras. No Instituto Octávio Magalhães (IOM) são 35 em oito projetos de pesquisa; na Diretoria Industrial (DI) são oito em dois projetos; na Diretoria de Planejamento, Gestão e Finanças (DPGF), três pesquisadoras e, na de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), são 36 projetos de pesquisa vigentes com pelo menos trezes grupos de pesquisa certificados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e 109 pesquisadoras. Produto das pesquisas desenvolvidas na DPD, a Funed também desenvolveu três startups, a SmartSensors, Onco Tag e CELLtype, as duas últimas lideradas por mulheres.

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