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Novo Cangaço: como era e como foi dominada superquadrilha no Norte de Minas

Prisão de dois fugitivos encerra ação policial que mobilizou 100 homens, helicóptero e drones contra um bando ligado a organizações criminosas de outros três estados. Nove morreram


Luiz Ribeiro | Estado de Minas

Uma grande ação policial no Norte de Minas. Prisão na Grande BH. Dois golpes no crime organizado ligado a facções com atuação em vários estados. Sob um forte esquema de segurança, foram apresentados ontem à imprensa, em Montes Claros, os dois últimos fugitivos da quadrilha que planejava uma série de ataques a carros-fortes e caixas eletrônicos na região: Ocean Pereira da Conceição, de 24 anos, e Edilson Souza de Oliveira, de 26. Eles foram presos na segunda-feira à noite, em um hotel de beira de estrada, no distrito de Vale das Cancelas, no município de Grão Mogol, após uma intensa caçada com duração de seis dias, período em que nove criminosos foram mortos em confrontos com as equipes da Polícia Militar de Minas Gerais e da Bahia. Em Santa Luzia, por sua vez, a polícia anunciou a prisão de um traficante com forte atuação na cidade e arredores, também ligado a facções com atuação nacional.

(foto: Arte EM)
foto: Arte EM

De acordo com a polícia, na operação no Norte de Minas, que contou com a participação de cerca de 100 agentes, cães farejadores, um helicóptero e a tecnologia de drones, foi desmontada uma das mais bem arquitetadas ações dos grupos especializados no ataque a caixas eletrônicos e carros-fortes no país, num duro golpe contra as quadrilhas do “Novo Cangaço”. Saíram de circulação – mortos ou presos – bandidos ligados a perigosas facções criminosas de três estados: Bahia, de onde o bando partiu em direção ao Norte de Minas, São Paulo e Ceará.

De acordo com uma fonte da inteligência policial da Bahia, que monitorou a quadrilha desbaratada no Norte de Minas, os ataques a carros-fortes e caixas eletrônicos planejados na região seriam de grande dimensão, vinham sendo organizados num período entre três e seis meses e também custaram caro: em torno de R$ 800 mil, “investimento” que acabou resultando em prejuízo para os criminosos do “Novo Cangaço”, com a grande apreensão de armamento pesado e de explosivos encontrados em poder grupo desarticulado.

Foram apreendidos em poder do grupo 420 quilos de explosivos, incluindo uma “inovação tecnológica”: artefatos com ímã para facilitar a detonação rápida de carros-fortes, que estão avaliados em R$ 300 mil. Também foi apreendido um arsenal que inclui seis fuzis, uma espingarda calibre 12, três pistolas automáticas, três revólveres e farta munição, como carregamento para metralhadora .50, arma com capacidade para derrubar aeronaves. O armamento apreendido em poder do bando está estimado em R$ 500 mil. Além disso, a quadrilha ainda perdeu quatro veículos que foram usados em seus deslocamentos na Bahia e no Norte de Minas.

O arsenal e os explosivos foram localizados na última quarta-feira, 25 de setembro, no município de Padre Carvalho, no “QG” do bando em um sítio distante 12 quilômetros da área urbana e a quatro quilômetros da BR-251 – estrada Montes Claros. No local, estava sendo planejado o primeiro ataque a um comboio de carros-fortes. A quadrilha também preparava para os dias seguintes ataques a um caixa eletrônico em Salinas e a um carro-forte em Divisa Alegre, na divisa entre Minas e a Bahia.

No sítio, houve confronto com a polícia. Seis bandidos foram mortos e outros comparsas deles fugiram, o que deu início a intensa caçada nas matas da região, que só terminou na segunda-feira à noite, em Vale da Cancelas, com as prisões dos últimos fugitivos. No decorrer da ação houve mais duas trocas de tiros com a polícia e outros três criminosos foram mortos.

Dois deles foram alvejados na madrugada de sexta-feira, na BR-251, durante uma tentativa de resgate dos fugitivos – um dos mortos era o motorista de um Fiat Strada usado na tentativa de resgate. Outros dois homens fugiram. Na manhã de sábado, as forças policiais alcançaram Edson Santos Queiroz, de 35, apontado como líder do bando e mentor das ações criminosas no Norte de Minas. Ele reagiu e foi morto numa troca de tiros, segundo a polícia. Com Edson, foi apreendido um revólver.

As prisões de Ocean e Edílson ocorreram por volta das 22h de segunda-feira. Depois de descobertos no meio do mato, os dois correram, passaram no estacionamento de um posto de gasolina e entraram em um hotel, no distrito de Vale das Cancelas, às margens da BR 251. Populares avisaram à Polícia Militar, que se deslocou até o estabelecimento, onde os dois criminosos se entregaram. Em seguida, informaram que tinham escondido um fuzil M-4 junto ao posto de gasolina, debaixo de folhas de árvores. A arma foi apreendida.
Perigo e técnica

O resultado da ofensiva contra as facções e as quadrilhas do “Novo Cangaço” no Norte de Minas foi comemorado pelo Comando da Polícia Militar de Minas Gerias. “Foi uma operação extremamente exitosa, que demonstra para a sociedade que a PM não descansa, mesmo com o enfrentamento do perigo, pois havia um grande arsenal em poder de uma quadrilha perigosa e vários (integrantes) não se entregaram. Eles confrontaram a polícia e levaram a pior”, afirmou o porta-voz da PMMG, major Flávio Santiago. Ele ressaltou que o enfrentamento foi “muito técnico”. E completou: “A Polícia Militar está cada vez preparada para inibir no estado qualquer ataque ou ação de quadrilhas”.

A caçada aos criminosos mobilizou 100 policiais por terra, um helicóptero e drones, um deles com a tecnologia de imagem por temperatura, que permite o monitorar o deslocamento das pessoas de acordo com o calor do corpo. Segundo o capitão Carlos Miranda, piloto do Corpaer – batalhão de patrulhamento Aéreo – que trabalhou na operação, foi essa tecnologia que possibilitou o acompanhamento dos dois fugitivos e a consequente prisão deles. No deslocamento das equipes da capital até o Norte de Minas, também foi usado um avião a jato, que antes servia ao gabinete do governador Romeu Zema, que cumprimentou os policiais pelo sucesso da operação.

Como funcionava o bando

A quadrilha desarticulada no Norte de Minas tinha ações bem planejadas, com atribuições definidas para cada um de seus componentes. Além disso, contava com o envolvimento de criminosos altamente perigosos, vinculados a facções da Bahia, São Paulo e Ceará. De acordo com fonte do serviço de inteligência da polícia da Bahia, que monitorou a quadrilha, os dois integrantes do grupo que foram presos, Ocean Pereira da Conceição – que já tinha mandado de prisão preventiva no Distrito Federal – e Edilson Sousa Oliveira do Vale, participaram da investida a carros-fortes em Minas por ordem dos irmãos Juvenal Laurindo e Neto Laurindo, de facção criminosa do Ceará, que comandaram o famoso ataque ao prédio do Banco Central em Fortaleza, em 2005. Na ação planejada no Norte de Minas eles tinham a função de fazer a contabilidade e agir na linha de frente de enfrentamento a policiais.

Edson Santos Queiroz, suposto mentor da ação em Minas, morto em tiroteio com os policiais, no sábado, também era líder, de acordo com a polícia, de uma da mais perigosas facções criminosas de Salvador. Edson era considerado de alta periculosidade, autor de uma série de homicídios, o primeiro deles cometido quando tinha 13 anos. A missão dele na quadrilha era de enfrentamento das forças policiais.

Um dos seis mortos no primeiro confronto da quadrilha com os policiais foi Valmir Silva Lemos, o Osasco. Entre integrou a ação no Norte de Minas como representante de uma facção criminosa paulista, que atua dentro dos presídios. Vinculado a uma facção criminosa paulista, um outro homem morto no confronto em Padre Carvalho, identificado como Rônio, tinha como “especialização”, fazer o mapeamento de rotas de fugas.

Ainda conforme a fonte do setor de inteligência da polícia da Bahia, o ex-candidato a vereador em Padre Carvalho, José Mendes de Sá, de 36, outro integrante do bando no enfrentamento da polícia, era responsável por garantir a logística, alimentos e remédios para o bando. Os 420 quilos de explosivos foram apreendidos na garagem da casa de José Mendes, em Padre Carvalho, curiosamente a um quarteirão do pelotão local da Polícia Militar. Ele foi o articulador o aluguel do sítio usado como QG pelos criminosos. O dono do sítio chegou a ser detido e foi liberado. Mas está sendo investigado pela suspeita de ligação com a quadrilha.

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