Bom, já é sabido que pode até ser eficaz criar obrigações ao empreendedor, mas que não costuma ser nem um pouco eficiente e raramente resolve o problema. Seres humanos seguem estímulos e não vai ser uma lei ineficiente que vai nos motivar a ser ecologicamente corretos.
Alexandre Freitas | Diário do Rio
Um caminho alternativo à interferência do Legislativo nessa questão seria criar uma rede de incentivos para que tornasse vantajoso ao empreendedor abandonar as sacolas convencionais, como o livre mercado já fez em redes de atacado, onde os próprios consumidores usam as caixas de papelão do estabelecimento para carregar suas compras até seus veículos. Quer coisa mais sustentável?
Foto: Agência Livre |
De que adianta demonizar as sacolinhas plásticas? Todos nós as reutilizamos de certa forma, estocando e depois reutilizando como saco de lixo. Agora, vão nos obrigar a comprar a mesma quantidade de plástico para servir de saco de lixo. Ora, o resultado da conta é o mesmo! Exceto pelo aumento de preço dos itens do mercado, devido à incerteza de cálculo de consumo de sacolas pelo consumidor a ser diluído na mercadoria (visto que é vedado o lucro), e que agora teremos de comprar as sacolinhas e também os sacos de lixo.
Infelizmente, tendemos a ter uma mentalidade medieval, onde a proibição e a penalização são preferidas em detrimento de estimular e premiar. Foi justamente o caminho do atraso que a Lei nº 8.006/18, aprovada na Alerj e que entrou em vigor no mês de junho deste ano, decidiu seguir. Agora, de qualquer forma, em nenhum dos casos o problema do descarte e destinação do plástico vai ser resolvido.
É evidente que temos dois problemas graves no Rio de Janeiro e no Brasil, que são a fraca (ou ausente) coleta seletiva e o mais grave de todos: o descarte.
Todos esses plásticos são descartados de forma completamente irresponsável, inclusive os que embalam todos os produtos que compramos, do saco do arroz ao saco plástico que, ironicamente, embala o rolo de saco de lixo que você vai ter que comprar para salvar o mundo, e as tartarugas, é claro.
Quando o lixo cumpre todo seu ciclo de descarte, coleta e destinação final, ele acaba em um dos aproximadamente 20 aterros sanitários distribuídos pelo Estado do Rio de Janeiro. Nenhum deles chega numa usina termoelétrica capaz de transformar lixo em eletricidade. Uma realidade que está prestes a mudar, com a primeira licença concedida no estado para usinas desse tipo e que será instalada no Caju, na Zona portuária da cidade do Rio.
Um outro dado importante sobre a destinação do lixo orgânico: além da precária coleta seletiva, no Brasil só existem 36 usinas de compostagem, enquanto nos Estados Unidos existem 5.749, e na Itália, 300. Uma reportagem do Jornal Hoje, da TV Globo, mostrou que a quantidade de lixo reciclado no Brasil é menos de 3%. A quantidade do plástico se torna irrelevante quando se dá a destinação correta: a reciclagem ou a incineração; mas, enquanto a coleta não é seletiva e todo o lixo coletado vai para o mesmo lixão, qualquer quantidade de plástico é nociva ao meio ambiente.
Segundo um artigo do Projeto Colabora, diferente do que se propaga sobre as novas sacolinhas, elas não são biodegradáveis. Na verdade, são tão nocivas ao meio ambiente quanto às anteriores. O artigo também indica que o problema vai continuar a existir e que a medida vai ser nula. Assim como é a “Lei dos Canudinhos”, que apenas incentivou o consumo de copos plásticos e de canudos de papel produzidos com colas tóxicas; infelizmente, a realidade é diferente daquela que pensam algumas pessoas que penduram suas ecobags no ombro e, com isso, acreditam estar salvando o mundo.
Aliada à inutilidade da medida, chama a atenção o fato de, no Brasil, somente ser capaz de produzir a resina das sacolinhas com o selo “I’m green”, a empresa Braskem, subsidiária da Odebrecht”. É isso que eu chamo de sustentabilidade conveniente. Os acionistas agradecem.
É um fato certo que a humanidade já possui todos os meios necessários para resolver a sua relação com o lixo, tanto é que países desenvolvidos já estão importando lixo, como é o caso da Suécia e Dinamarca. Enquanto isso, aqui no Brasil criamos mais uma obrigação para o empreendedor, mais um custo e dificuldade para o cidadão fluminense, e o pior: isso tudo para NADA.
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