Pular para o conteúdo principal

Paulo Ganime: Liberdade de escolha na crise hídrica

Nas duas últimas décadas, o mundo e o Brasil mudaram. As pessoas agora podem escolher a operadora de celular que melhor atende aos seus desejos. Optam por ir ao cinema ou assistir ao filme favorito pelo canal de streaming de que mais gostam. Podem decidir se encontrarão os amigos de carro, ônibus, metrô, táxis ou com a ajuda de aplicativos de transporte. Se não quiserem ir para o restaurante, uma miríade de deliveries coloca as principais grifes gastronômicas à distância de poucos cliques.

Por Paulo Ganime | O Globo 

É justamente no setor de energia, que vive mais um pico de estresse, que essa liberdade não existe. A maior parte dos consumidores não pode decidir de quem comprar a energia que consumirá, tornando-se refém de um mercado pouco competitivo, com preços controlados por poucos players, e não ditados pelas regras da livre concorrência. Vinte anos depois do apagão do governo Fernando Henrique, estamos mais uma vez diante de uma crise hídrica aguda, provocada pela pior estiagem em 91 anos.


Paradoxalmente, a ameaça de um novo apagão chega no mesmo instante em que o país passa por uma transformação legislativa na área de energia. O Congresso apreciou a MP de Capitalização da Eletrobras, o Novo Marco Legal do Gás e amadurece a necessidade de discutir o PL 414/2021, que trata da modernização do setor elétrico, um debate que tem o apoio da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo.

O PL 414/2021 propõe a migração para o mercado livre de energia elétrica de todos os perfis de consumidores, não apenas os de grande porte, como ocorre hoje. O objetivo é diversificar e descentralizar nossa matriz energética, trazendo benefícios ao consumidor final, com maior estabilidade do sistema e poder de escolha entre fontes mais limpas ou mais baratas.

A crise hídrica configura um cenário crítico para o Brasil, agravado pela nossa dependência das hidrelétricas. No passado, essa dependência, que ainda corresponde a 63% do mercado, se justificava por ser uma energia barata. No entanto seu potencial se torna cada vez menor pelas crises já citadas e pela distância dos centros de consumo.

É nesse ponto em que percebemos como avançamos pouco no setor. Um levantamento da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) com 56 países mostra que 62,5% deles já tornaram livre a escolha de fornecedores de energia para a totalidade da população. O Brasil segue fora desse grupo, e o acesso a energias renováveis se restringe a quem tem poder aquisitivo para investir em geração distribuída ou a consumidores de grande porte, com demanda mínima contratada de 3.000 kW.

Infelizmente, além da crise e da falta de abertura do mercado, a conta de luz tem sido usada como um “orçamento paralelo” para a aplicação de políticas públicas, por ser mais fácil embutir um custo extra nela do que aprovar o orçamento da União. Os custos mais altos tornam toda a cadeia produtiva mais cara, não se restringindo apenas à energia, mas atingindo todos os produtos fabricados no país.

Fica cada vez mais clara a importância de diversificarmos e descentralizarmos nossa matriz, buscando modelos regionais para dar mais segurança ao sistema, combater os subsídios cruzados, dar mais opções aos consumidores e, por fim, baratear o custo da energia.

Precisamos focar no planejamento e na solução. A discussão sobre a modernização do setor deve ser feita a partir de agora. Não podemos esperar que a crise hídrica se torne incontornável para, só então, nos movermos. Em energia, dez ou 20 anos são apenas curto prazo. Planejamento e ação começam já! E sempre é bom lembrar: consumidores livres se tornam mais responsáveis e conscientes das próprias escolhas.

*Paulo Ganime é Deputado federal (Novo-RJ), é coordenador temático de desestatizações e privatizações da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bancada do NOVO na ALERJ defende reforma tributária do estado

Com apenas 2 deputados estaduais, Chico Bulhões e Alexandre Feitas, o NOVO defende que o estado do Rio de Janeiro passe por uma reforma tributária, além da privatização da CEDAE. Por Quintino Gomes Freire | Diário do Rio Em discurso ontem, 5ª (14/3), o líder do partido, Bulhões, disse “Precisamos fazer estudos para entender onde estão os gargalos, como é que a gente consegue aumentar a competitividade das empresas que querem se instalar no Rio de Janeiro, gerando empregos e renda“. Deputados Estaduais Alexandre Freitas e Chicão Bulhões (NOVO-RJ) Ele elogiou o esforço da Secretaria de Fazenda no combate à sonegação e a corrupção na concessão de incentivos fiscais do estado, mas questionou o foco do governo na ampliação das receitas. Destacando que a crise fiscal também é uma crise de despesas. “Responsabilidade fiscal demanda responsabilidade com despesas. Não é sufocar apenas o contribuinte. É claro que tem que se punir quem está errado, mas também reconhecer que o esta

Deputado quer fazer ‘revogaço’ de leis e burocracia na Assembleia Legislativa de São Paulo (VIDEO)

Você sabia que há uma lei em vigor no Estado de São Paulo, que isenta da cobrança de frete ferroviário o transporte de pombos-correio? Por Fernando Henrique Martins | Gazeta do Povo Parece piada, mas não é. Trata-se da Lei n.º 943 de 1951 , proposta pelo então deputado Antônio Sylvio Cunha Bueno, aprovada por seus pares, e sancionada pelo governador Adhemar de Barros. Deputado Estadual Ricardo Mellão (NOVO-SP) | Reprodução Assim como essa, tantas outras leis sem qualquer utilização prática ou relevância atravancam o sistema de cidades, estados e do País. É exatamente esse o ponto que o deputado estadual Ricardo Mellão (Novo) pretende atacar em sua legislatura. “Temos feito um trabalho que inicia na desburocratização legislativa. Minha equipe levantou 15 mil lei e descobrimos que 73% delas dizem respeito a denominações de viadutos, estradas, além de datas comemorativas, como Dia do Saci, Dia do Tomate. Só sobre o Dia da Uva temos três datas diferentes”, explica o parlame

Maioria dos partidos se identifica como de centro

Vinte siglas se classificam como fora dos extremos no espectro político em meio a um cenário polarizado; apenas uma legenda, o PSL, se considera de direita Vinícius Passarelli e Paulo Beraldo | O Estado de S.Paulo Em meio a um cenário polarizado, mais da metade dos partidos políticos brasileiros se diz de centro, enquanto apenas um - o PSL, até pouco tempo atrás a legenda do presidente Jair Bolsonaro - se considera de direita e sete se colocam como de esquerda. É o que aponta levantamento feito pelo 'Estado' com os 33 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A reportagem questionou as siglas como elas se autodefinem em relação à orientação ideológica. “O PSL é um partido liberal, de direita”, informou a legenda. Partido hegemônico na esquerda do País há pelo menos 30 anos, o PT saiu de sua última convenção nacional, realizada em novembro, como uma agremiação “de esquerda democrática e libertária”. Já outros partidos deram respostas “curiosas” quand