Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo
Entrevista com João Amoêdo, pré-candidato do Novo à Presidência da República.
Nesta entrevista ao Estadão, Amoêdo avalia que o “polo democrático” - que inclui também o governador João Doria (PSDB), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), o ex-governador Ciro Gomes (PDT), o apresentador Luciano Huck e o ex-ministro Sérgio Moro (sem partido) - não tem hoje um nome à frente dos demais.
Um dia após seu nome ser lançado pelo Novo como candidato à Presidência, uma ala do partido lançou o deputado Tiago Mitraud (MG). O Novo está rachado?
Esse movimento é mais da bancada. O Novo sempre acompanhou o estatuto. A definição da candidatura é feita pelos diretórios estaduais e pelo nacional. São 40 pessoas que votam neste processo. Há duas semanas recebi um convite de 36 dos 40 para ser o pré-candidato. Depois de refletir bastante, dei a resposta. Do meu ponto de vista, a definição está dada.
O sr. estaria disposto a disputar prévias?
O convite que foi feito é para ser pré-candidato, não para disputar prévias. Em tese, o partido fez seleção, avaliou e os 20 diretórios fizeram essa definição.
O que muda em uma eventual candidatura sua? Foi um erro ter apelado ao antipetismo?
O antipetismo não foi um erro, mas a eleição ficou muito polarizada. O que muda na minha pré-candidatura é que vou começar sendo uma pessoa mais conhecida. Em 2018, eu praticamente nem aparecia nas pesquisas. Em 2022, o candidato do Novo poderá participar dos debates na TV. Temos um governador, uma bancada federal, estadual e vereadores. O partido é mais conhecido, e eu como pré-candidato também.
O governador de Minas, Romeu Zema, abandonou bandeiras do Novo, como as privatizações. Ele não seguiu o programa do partido?
Ele fez uma boa gestão e melhorou as contas públicas. Montou uma boa equipe e atraiu investimentos, mas enfrentou dificuldades na Assembleia. As privatizações foram prejudicadas por isso. Ele tem a meta de privatizar pelo menos uma empresa, a Codemig, antes do fim do mandato. Se ele for reeleito, poderá completar esse processo. Ele de fato tem uma proximidade maior com o presidente. Entendo que ele faz isso de forma pragmática. Mas, se você observar as ações dele, em nenhum momento o Zema embarcou em teses malucas do presidente.
Zema apoiou a iniciativa de lançar outro nome à Presidência pelo Novo. O que achou?
Prezo o Novo como instituição e essa decisão cabe aos diretórios estaduais e ao diretório nacional.
O sr. assinou manifesto com outros presidenciáveis que buscavam uma terceira via de centro. Esse projeto fracassou?
Era muito difícil sair em um primeiro momento com uma candidatura única por vários motivos. O primeiro é que nenhum dos nomes está claramente à frente dos demais. Estão todos muito embolados. Com a margem de erro, estão todos empatados. Em segundo lugar, os calendários de todos estavam muito diferentes. Alguns com incertezas se vão sair ou não, como Sergio Moro e Luciano Huck, outros com indefinições partidárias, como é o caso do Doria, do Tasso e do Eduardo Leite. Teremos o lançamento de outras candidaturas e vou trabalhar para que elas tenham algumas pautas semelhantes. Lá na frente, espero que haja uma disposição de todos de se unir em torno de um candidato.
Essa união seria no 2° turno?
Talvez antes. Não acho ruim termos vários nomes se contrapondo ao Bolsonaro.
A pandemia compromete a narrativa liberal e obrigou uma ação mais forte do Estado?
Eu acho que não. Os países liberais foram os que saíram melhor da crise. No Brasil, a gente caiu na velha armadilha de ser um País que gasta muito e gasta mal. Nenhum privilégio ou benefício foi cortado na pandemia. Pelo contrário. O próprio presidente da República deu aumento para si e outros ministros. A agenda liberal não foi implementada na prática.
O crescimento do Lula e o aparente derretimento do Bolsonaro nas pesquisas vai levar a uma guinada do centro à direita?
Eu trabalho com o cenário mais provável de ter o PT no 2.° turno. A disputa vai ser na construção de um centro à direita. Esse foi um papel que, em tese, o PSDB representou lá atrás. Mas foi em tese só, porque muitas vezes as políticas deles foram próximas ao PT, com uma linha mais socialista. Bolsonaro apareceu com essa opção, mas não era. Ele era mais um populista sem projeto para o Brasil. Em 2022 vamos construir um polo mais liberal. Vamos ter um polo mais de centro direita para fazer frente ao Lula.
Como avalia o encontro dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso?
É um direito do Fernando Henrique, que já deu a sua contribuição e pode se encontrar com quem quiser. Mas não acho uma sinalização adequada do ponto de vista ético e de valores neste momento de um líder político.
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