Suzana Corrêa | O Globo
SÃO PAULO - O balanço do ano da corrida eleitoral municipal nos quadros partidários trouxe más notícias para o partido Novo, que apresentou queda de 15% no número de filiados entre janeiro e novembro, a maior entre os mais de 30 partidos do país. Na outra ponta, siglas como PSL e PSD estão entre as que mais ganharam filiados em números absolutos. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
De acordo com o TSE, o país tem hoje 16,6 milhões de filiados a partidos políticos.
Ascensão e queda
O Novo, criado em 2015, aumentou em cinco vezes o número de filiados entre 2016 e 2020, atingindo quase 50 mil em seu auge. Formou bancada no Congresso em 2018 e elegeu o governador de Minas Gerais, Romeu Zema.
Neste ano, porém, emplacou apenas um prefeito entre 30 candidatos e 29 vereadores entre 560 proponentes, além de um fiasco na corrida pela prefeitura paulistana com a impugnação de Filipe Sabará antes do primeiro turno.
Nos estados do Rio e São Paulo, e suas capitais, o Novo teve o maior percentual de desfiliações, quando comparado com PSDB, PT, PSOL, MDB, DEM e PSL, partidos que abrigaram os principais candidatos à prefeitura nessas regiões.
Cerca de 13% dos filiados paulistas deixaram a legenda, bem como 9% dos fluminenses. Nas capitais a queda foi menor, mas ainda a maior entre os partidos considerados: 5% dos membros paulistanos do Novo desfiliaram-se neste ano, acompanhados de 4% dos cariocas.
O Novo enfrenta divergências entre correligionários sobre apoiar ou ser oposição ao governo Jair Bolsonaro. Outro motivo de atrito é sobre o modelo ideal de seleção de novos candidatos, que hoje inclui o trabalho de “headhunters” (recrutadores), a cobrança de mensalidade e pagamento de taxa para concorrer aos cargos públicos.
— O partido tem a vantagem de ser uma sigla ideológica de direita num cenário marcado por partidos mais fisiológicos, o que atraiu o empresariado de classe média que não se via representado, e permitiu que ganhasse neste ano a prefeitura de Joinville, maior cidade de Santa Catarina — afirma o cientista político Bruno Bolognesi, que pesquisa partidos no país.
O Diretório Nacional do Novo atribuiu a queda no número de filiados à crise financeira causada pela pandemia. O partido cobra mensalidade de R$ 31.
“Diferentemente de todos os demais partidos, a filiação ao Novo está relacionada à contribuição mensal/anual que garante ao partido não depender de recursos públicos nem tampouco de qualquer pacto de dízimo daqueles que ocupam algum cargo público para se manter. Num cenário de pandemia, como a que vivemos, entendemos que a variação é plenamente aceitável”, disse o partido, em nota.
A Rede, partido que teve o maior avanço percentual de filiados neste ano, estuda uma fusão com o PV numa tentativa de ambos ultrapassarem a cláusula de barreira — que exigirá dos partidos, em 2022, no mínimo 2% dos votos nacionais na eleição para deputado federal, com ao menos 1% em nove estados. Outra opção é eleger 11 deputados em nove ou mais estados.
O PSL, que abrigou Bolsonaro durante a corrida presidencial de 2018, ganhou quase 100 mil novos filiados entre outubro de 2019 e dezembro de 2020. Ao GLOBO, o partido atribuiu o bom resultado à defesa de pautas que afirma angariar simpatia na população, como a livre iniciativa e o compromisso com a democracia.
A sigla afirmou ainda, em nota, que atraiu eleitores mantendo “intactos seus posicionamentos ideológicos” mesmo após a saída de Bolsonaro, em novembro de 2019.
Na cidade do Rio, o partido pulou de quase 6 mil filiados, em janeiro, para mais de 10 mil, em novembro, atraídos em parte pelos recursos do Fundo Eleitoral para financiamento de campanhas e obtidos após o bom resultado nas urnas em 2018.
Além de PSL e Rede, outras siglas que tiveram aumento expressivo no percentual de filiados, como PSD, Avante, e PROS, não tiveram candidatos a prefeito competitivos nas cidades de Rio e São Paulo.
Outro partido que ampliou seu número de filiados, o PSOL cresceu 62% na capital paulista em 2020. Lá, chegou ao segundo turno com Guilherme Boulos, apontado como uma das novas lideranças de esquerda.
Presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros acredita que a ampliação de seus quadros é reflexo da presença crescente do partido nas redes, com estratégia que aproxima os nomes da legenda dos eleitores. Em 2012, o PSOL possuía 68 mil filiados, número que passou a 122 mil em 2016 e 220 mil neste ano.
— Para nós, o partido tem crescido pois apresenta posições muito firmes em defesa das bandeiras e se posiciona claramente em oposição ao governo Bolsonaro. Também traz consigo uma possibilidade de renovação política, não só de nomes, mas também de ideias, retomando bandeiras históricas da esquerda que foram esquecidas por outros partidos — diz Medeiros.
PT, PSDB, MDB e DEM, partidos tradicionais e os únicos com mais de 1 milhão de filiados pelo país, mantiveram-se relativamente estáveis, com variação até 5% nos quadros.
— Partidos maiores e mais consolidados têm quadros de base mais estáveis. Essa condição de estabilidade não existe para os novos ou pequenos partidos. E filiados significam recursos, pois boa parte dos pequenos, como não têm os requisitos estruturados para obter recursos do Fundo Partidário e Eleitoral, dependem de contribuições — afirma Rachel Meneguello, professora de ciência política da Unicamp.
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