Felipe Grinberg e Marlen Couto | O Globo
RIO — Ao menos quatro candidatos a prefeito do Rio copiaram trechos dos programas de governo de publicações disponíveis na internet. O GLOBO encontrou nas propostas entregues à Justiça Eleitoral por Marcelo Crivella (Republicanos), Luiz Lima (PSL), Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT) passagens idênticas às de artigos, apresentações da prefeitura e documentos apresentados em eleições passadas.
Em outro momento, o programa de Lima defende a “integração dos modais, com prioridade para o transporte de alta capacidade e promover a integração físico-operacional e tarifária, diminuindo o tempo de deslocamento e dando capilaridade à rede de transporte” — o trecho foi copiado integralmente do plano da gestão de Crivella.
Um artigo escrito por um advogado também serviu de inspiração ao candidato do antigo partido de Bolsonaro. Ao citar as propostas para o esporte, Lima, ex-nadador, faz um depoimento pessoal. O último parágrafo, no entanto, em que narra como profissionais da área “costumam exercer uma liderança natural” entre os alunos foi retirado do texto “Ética e educação física no mesmo jogo. Um desafio possível”, publicado em agosto de 2019.
Crivella, por sua vez, retirou integralmente um trecho em que propõe “proteger as fontes de águas subsuperficiais e subterrâneas contidas no Aquífero Guaratiba” de uma apresentação feita pela Secretaria municipal de Meio Ambiente, disponível no site da prefeitura.
No capítulo em que trata de ações para fomentar as startups na cidade, o prefeito promete realizar quatro ações para atrair pequenos e microempreendedores. Os textos, no entanto, foram extraídos da área do site da prefeitura que explica a atuação da Agência de Fomento do Município (Fomenta Rio).
O prefeito também reciclou metas que ele mesmo apresentou. Uma delas é a revitalização de 50% dos equipamentos culturais do município, que, em 2017, havia sido prometida para este ano — no documento entregue à Justiça Eleitoral, o prazo foi prorrogado para 2022.
No caso de Martha Rocha, o plano de governo tem trechos idênticos aos de um artigo do professor Geraldo Tadeu Monteiro, da Uerj, sobre economia do conhecimento, publicado em 2018 no site do Jornal do Brasil. Ao tratar de propostas para a área de ciência e tecnologia, o documento reproduz na íntegra, sem que ele seja citado, uma frase em que o professor trata de “modelo fundado na produção, distribuição e consumo de conhecimento e informação, priorizando investimentos em indústrias e serviços de alta tecnologia”.
Já a campanha de Benedita reproduziu diversas propostas apresentadas em 2012 por Fernando Haddad, então candidato do PT à prefeitura de São Paulo. Uma delas, na área da saúde, defende um modelo que possa “articular e organizar a rede de urgência e emergência, incluindo a assistência pré-hospitalar na saúde pública”.
A lei eleitoral obriga todos os candidatos a cargos no Executivo a apresentarem, junto ao pedido de registro de candidatura, um documento que reúna suas propostas.
Candidatos se defendem
Lima afirmou que o plano de governo foi desenvolvido com a ajuda de um grupo de técnicos e que o projeto apresentado pela gestão de Crivella “pertence à cidade e ao cidadão”. Ainda segundo o candidato, o trecho copiado do artigo foi autorizado pelo autor, que também participou da elaboração das propostas.
Procurado, o coordenador da campanha de Crivella, Rodrigo Bethlem, afirmou não ver problema de retirar os trechos da internet:
— Não podemos fazer um programa de oposição. Alguns programas são novos, e outros, de continuidade. Algumas coisas foram incorporadas, são informações públicas a que qualquer um pode ter acesso e são importantes para que ele defenda no próximo mandato.
A campanha de Martha Rocha disse que o professor da Uerj foi um dos coordenadores do plano de governo durante a fase inicial de preparação e que parte do projeto contou com “estudos, ideias e sugestões” dele.
A assessoria de Benedita classificou como natural o fato de o programa de governo de uma candidata do PT aproveitar “o acúmulo de programas e propostas defendidas e executadas pelas administrações petistas, bem como os debates e ações realizadas e apresentadas pelos movimentos sociais e entidades que lutam pelas mesmas causas”.
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