Bem Paraná
Em entrevista exclusiva ao Bem Paraná, João Guilherme afirma que o maior desafio do próximo prefeito será justamente lançar um plano de emergência para combater os impactos da “segunda onda” da pandemia na saúde e nos negócios. E garante ter independência total para formar uma equipe eminentemente técnica, já que ao contrário de Greca, cuja candidatura é sustentada por uma coligação de dez partidos, ele disputa a eleição com chapa pura, já que o Novo se recusa a usar dinheiro público na campanha.
Em entrevista exclusiva ao Bem Paraná, João Guilherme afirma que o maior desafio do próximo prefeito será justamente lançar um plano de emergência para combater os impactos da “segunda onda” da pandemia na saúde e nos negócios. E garante ter independência total para formar uma equipe eminentemente técnica, já que ao contrário de Greca, cuja candidatura é sustentada por uma coligação de dez partidos, ele disputa a eleição com chapa pura, já que o Novo se recusa a usar dinheiro público na campanha.
João Guilherme: “Lockdown tardio afetou a economia” (Foto: Franklin de Freitas) |
Bem Paraná – Se hoje fosse 1º de janeiro de 2021 e o senhor tivesse sido eleito prefeito, qual seria a sua primeira medida?
João Guilherme – A gente já está pensando nisso com a formação de um secretariado totalmente técnico, sem indicações políticas e compondo uma equipe preparada, porque nós vamos ter um curto espaço de tempo depois do segundo turno. Quando a gente desenvolveu o plano de governo que foi ouvindo muitas pessoas e de vários segmentos da economia e da sociedade, já antevemos que essa transição vai ter que ser muito rápida e ágil. Inclusive, nosso plano de governo é baseado em coisas práticas. Por isso a gente vai, a partir de janeiro, compor uma secretaria absolutamente técnica.
BP – O senhor concorre com chapa pura, sem alianças, mas terá que compor com outros partidos para governar. Como pretende fazer isso?
João Guilherme – Vamos seguir, por exemplo, o modelo aplicado pelo governador do Novo, Romeu Zema (Minas Gerais). Onde das 13 secretarias, apenas duas são compostas por pessoas de partidos políticos, as outras são de indicações técnicas. Que podem ser indicações de possíveis aliados que vão compor a base do governo na Câmara, mas que sejam técnicos. Essa é uma questão que a gente acha fundamental. Será, sim, técnica, mas claro que a gente entende que é necessário a composição para haver governabilidade. Mas nunca essa composição baseada em troca de favores ou de cargos, como é hoje em dia. A gente percebe muito a atual administração que o relacionamento com a Câmara não é republicana. Nós temos denúncias, inclusive, de que a Câmara pede cargos para a prefeitura e a prefeitura faz um nepotismo cruzado abrigando cargos da Câmara para que ela seja sempre condescendente às medidas do prefeito. Não acho que isso seja bom para o modelo democrático. Nós temos que mudar essa forma de fazer política baseado em cargos em comissão. Daí a gente administra através de regime de urgência sem ter um relacionamento democrático e republicano com a Câmara. E os vereadores não fazem a parte deles que é fiscalizar as ações do prefeito. Essa é uma proposta completamente diferente do nosso partido que é justamente baseado na governabilidade em cima de propostas.
BP – Qual a avaliação que o senhor faz da forma como a gestão Greca lidou com a pandemia?
João Guilherme – Eu sou médico e desde o começo a gente alertava para a gravidade do que poderia ocorrer, e que isso não era brincadeira, era uma doença muito séria. Por isso a gente cobrou medidas da prefeitura, e sim, essas medidas foram atrasadas, e causaram impacto na resposta da prefeitura no combate ao Covid. Inclusive a questão da testagem em massa, a preparação dos leitos de UTI, não resolver o problema do transporte público com ônibus lotados. Essa doença fez com que a gente fizesse um lockdown tardio onde a gente teve que lutar novamente contra a doença, fazer uma restrição, afetando muito o lado econômico também. A gente mantém as críticas contra a falta de agilidade e de encarar o problema como algo muito grave. Mas temos que pensar, daqui para frente, nas propostas que a gente precisa fazer.
BP – Qual o principal desafio para o próximo prefeito nesse cenário?
João Guilherme – Dois desafios muito grandes: a recuperação da saúde e a segunda onda do Covid. Só para termos uma noção, quatro em cada dez pessoas que deviam estar fazendo acompanhamento médico de doenças crônicas não está fazendo. 42% das pessoas não está fazendo esse acompanhamento. O número de pessoas que fez diagnóstico de câncer diminuiu muito. Sou médico e também proprietário de uma instituição de saúde no hospital. Nosso movimento caiu 40%. As pessoas não estão fazendo avaliações oftalmológicas, de sua saúde. Essa segunda onda vai ser muito impactada e o sistema de saúde vai sofrer um estrangulamento muito grande. Por conta disso e também das pessoas que estão perdendo acesso aos planos de saúde. Vamos ter que fazer uma mudança completa no atendimento, e o caminho é tecnologia. Plataforma de teleatendimento para que a gente faça uma triagem e uma destinação dos pacientes de maneira protocolar, científica. Nós temos como fazer isso. O Conselho Regional de Medicina emitiu só depois do início da pandemia 240 mil receitas, atestados e pedidos de exame online. A telemedicina veio para ficar e nós temos que utilizar essa tecnologia para facilitar o acesso da população aos serviços do SUS. Além disso, a gente tem que aumentar a parceria público-privada entre as instituições filantrópicas e hospitais privados e universitários. Com isso a gente vai conseguir oferecer uma maior rede de proteção ao cidadão em relação ao SUS. Outro grande desafio é a recuperação e retomada econômica. Os micro e pequenos empresários são responsáveis por 90% da geração de empregos no Paraná. E a gente tem que viabilizar a sustentabilidade dessas empresas, que vão ficar sem certidão negativa. A prefeitura tem que fazer um diferimento dos impostos que estão atrasados, tem que conseguir deixar o cadastro dessas pessoas positivas. E não adianta achar que só os bancos privados vão fazer financiamento para essas empresas que não têm garantia real. A prefeitura vai gerar uma linha de crédito direto ao pequeno e microempreendedor. Isso é muito fácil e factível de fazer. A cada real que você aporta nesse fundo da prefeitura, você consegue multiplicar em cinco ou sete vezes o valor desse dinheiro. A prefeitura pode, por exemplo, fazer um aporte de R$ 100 milhões, captar esse dinheiro de fundo externo e fazer esse fundo gerar até R$ 700 milhões. Isso vai ficar disponível ao pequeno e microempreendedor para que ele consiga fomentar a economia da cidade. Fomentando a economia você aumenta a arrecadação. Importante dizer: aumento a arrecadação não quer dizer sempre aumento de impostos. A prefeitura, na atual gestão, conseguiu aumentar a arrecadação, mas sempre baseado no aumento dos impostos e não fomentando a economia e tornando a cidade parceira do empreendedor. É isso que nós temos que fazer. A prefeitura de Curitiba vai dizer muito mais sim do que não ao empreendedor da cidade.
TRANSPORTE COLETIVO
‘Sistema está totalmente esgotado’
Bem Paraná – A atual gestão promoveu a terceirização de serviços de saúde. O senhor pretende manter essa política ou revê-la?
João Guilherme – Eu sou favorável em algumas situações a essa terceirização. Mas não sou favorável à terceirização a empresas que são completamente de fora do sistema da saúde. Sou favorável a alguns modelos que já existem no Brasil como o hospital Menino Jesus, em São Paulo, que foi terceirizada a gestão para o hospital Sírio-libanês, mas não foram terceirizados os funcionários. Os funcionários são os mesmos. A gestão foi terceirizada e com isso o paciente tem a referência e a contrareferência do seu tratamento. Por exemplo, a Santa Casa, o hospital Mackienze podem fazer a administração das UPAS, que hoje em dia foram terceirizadas aqui para um empresa que inclusive está sendo investigada pelo Ministério Público no Rio de Janeiro. Nós temos que fazer a terceirização da gestão integrada aos hospitais que são de referência.
BP – O que o senhor acha do subsídio da prefeitura de Curitiba para as empresas de ônibus?
João Guilherme – O transporte coletivo não tem mais sustentabilidade. Essa maneira que o transporte coletivo existe no município não é bom para a prefeitura, para o cidadão e para o empresário. Esse sistema está totalmente esgotado, não mais se sustenta. E nem nesse momento da pandemia a prefeitura conseguiu enfrentar essa contratualização que existe e optou por fazer um caminho mais fácil que era subsidiar a passagem para que o transporte público não parasse. Nós temos que quebrar esse paradigma. Nós vamos ter três anos para preparar o sistema para fazer um novo contrato no final da próxima gestão. E esse contrato vai ter que ser completamente diferente, mudando os modais de transporte, fazendo a integração entre vários novos modais que não existiam há 30, 40 anos quando foram feitos os atuais contratos. Nós já temos um projeto de desenvolvimento do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), fazendo a interligação do centro da cidade, da Rodoferroviária com o aeroporto de São José dos Pinhais através da avenida das Torres. E nós pretendemos fazer uma mudança e adensamento de algumas regiões, promovendo através de parceira-público-privadas áreas comerciais mistas onde a gente pode fazer verticalização e adensamento. Com a melhoria do transporte público a gente vai fazer com que os passageiros voltem. A gente teve de 2011 para 2019 uma diminuição de 40% dos passageiros. Onde andavam 2 milhões de pessoas hoje em dia andam 1,2 milhão. Nós temos que melhorar o serviço para que as pessoas voltem a andar de transporte público.
BP – Em fevereiro já tem o reajuste dos motoristas e cobradores e também da tarifa. Como o senhor pretende administrar isso?
João Guilherme – Não se pode fazer falsas promessas e promessas levianas. Em um mês, nenhum prefeito vai ter articulação suficiente para resolver esse problema. Vamos questionar a tarifa técnica a taxa da Urbs e diminuir o subsídio da prefeitura às empresas de ônibus.
CAMPANHA
‘Nosso maior desafio é ficar conhecido’
Bem Paraná – O senhor foi candidato a vice-prefeito em 2016. O que trouxe dessa experiência para a atual campanha?
João Guilherme – Foi uma experiência onde eu consegui ter a capacidade de entender os problemas da cidade e entender o mundo político e necessidade e o desafio que é fazer uma campanha. Aprendi bastante, mas também me decepcionei, por isso que me afastei do grupo político e da vida política em si. Depois disso, me preparei pessoalmente, acabei encontrando o partido Novo que é realmente uma proposta totalmente diferente. E só aceitei o desafio por estar no Novo, por ter independência total. Nós somos um partido que não faz coligação por não aceitar o fundo eleitoral. Não existe possibilidade de coligação com outros partidos que usam o fundo eleitoral. Isso me dá uma independência completa. Nós fomos os primeiros a registrar chapa no TRE. Nós somos os que mais estão preparados. Temos feito uma pré-campanha absolutamente robusta. Começamos a campanha com uma carreata com mais de 400 carros. A gente está fazendo barulho na cidade. Eu tenho a plena convicção que a proposta do partido Novo vai ser muito bem aceita pelo curitibano. Acho que a nossa campanha é a que tem maior potencial de crescimento. Tenho convicção de que nós temos uma possibilidade real de ir para o segundo turno e se formos para o segundo turno, tenho convicção de que sairemos vencedores. Nosso maior desafio é ficar conhecido. As pessoas conhecerem nosso nome, as propostas do partido Novo e entenderem que é possível fazer uma política diferente, de maneira clara, transparente, sem ter compromisso com o erro, e sem ter compromisso nenhum com grupo ou aliança partidária. É possível fazer isso e nós vamos fazer isso em Curitiba.
BP – Como se tornar conhecido diante das restrições da pandemia. Isso não favorece quem é mais conhecido?
João Guilherme – Com certeza favorece, mas nós temos hoje um instrumento muito grande que é a comunicação em massa através das mídias sociais. Nós temos hoje um crescimento muito grande nas mídias sociais. Mas mais que o crescimento do número de seguidores são as interações. Só para ter uma noção, o Chiquinho Scarpa em São Paulo tem mais de 1 milhão de seguidores e teve mil votos. Então só ter seguidor não adianta nada se não tiver identificação com as propostas. E a gente está tendo isso em Curitiba de maneira muito clara.
PRIORIDADE
‘Primeiro ano será de recuperação’
Bem Paraná – O que o senhor acha da questão da volta às aulas?
João Guilherme – Eu como médico sempre prezo muito pela segurança. Infelizmente temos risco de transmissibilidade alta. Haja visto que quando nós demos uma arrefecida no controle teve que voltar para a bandeira laranja. Mas acho que se a gente conseguir controlar um pouco mais, ficar nessa taxa de transmissibilidade baixa e com a segurança a gente pode avaliar a possibilidade de retorno às aulas, porém, sem ser uma coisa obrigatória, mas opcional. Mas acredito que o foco deve ser o pensamento a partir do ano que vem. Nós vamos ter um grande desafio na educação. As pessoas estão saindo das escolas particulares, não estão conseguindo pagar porque estão perdendo seus empregos. O número de crianças na rede pública vai aumentar. Estamos já nos preparando para isso no ano que vem? Estamos aumentando o número de convênios com as escolas particulares? Estamos dando assistência para essas escolas? Infelizmente não. Então nós temos que além de discutir a questão da volta às aulas, que é muito difícil, que a gente entende que os pais estão voltando a trabalhar, não têm com quem deixar as crianças. Eu tenho três filhas, sei do que a gente está falando. Mas mais importante do que isso é a partir da retomada da educação no ano que vem. Nós tivemos uma notícia péssima agora: Curitiba não conseguiu avançar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mais uma vez. A gente vai ter que repensar o modelo de educação em Curitiba. Isso está contemplado no nosso plano de governo. A gente tem um anexo que é destinado para o primeiro ano de recuperação do Covid.
BP – Curitiba, com exceção do período do Requião e do Fruet, vem sendo governada pelo mesmo grupo político há mais de 30 anos. O atual prefeito, inclusive, sucedeu Jaime Lerner. Fala-se que esse grupo perdeu a capacidade de inovar que era uma marca do urbanismo da cidade. O senhor concorda?
João Guilherme – Acho que sim. Curitiba já teve uma grande capacidade de inovação. E acho que isso precisa urgentemente ser recuperado. Temos que manter a infraestrutura e obras que foram características dessas gestões, mas temos que trazer as pessoas para o centro de investimento da cidade para que a prefeitura possa ser um catalisador do desenvolvimento das pessoas. E diminuir principalmente essa diferença que existe entre a região central de Curitiba e os bairros periféricos que nesta gestão atual foram muito pouco cuidados.
BP – Qual a relação que o senhor pretende ter com os governos federal e estadual?
João Guilherme – A gente tem que ter consciência que o Novo é um partido diferente, mas que apoia projetos e ideias. Todos os bons projetos, ideias estão sendo apoiados por nossa bancada na Câmara Federal e estão votando favorável às medidas do presidente Bolsonaro. As coisas que são feitas erradas estão sendo criticadas. Somos oito deputados federais do Novo, e eles são os mais bem avaliados pelo ranking dos políticos. Temos uma relação republicana com o presidente da República. E aqui no Estado temos que lembrar que Curitiba é a Capital do Estado. O governador vai ter que olhar com bons olhos qualquer que seja o prefeito eleito. A gente não pode ter mais isso que aconteceu há alguns anos atrás que o prefeito estava em um grupo contrário ao governador e Curitiba foi penalizada. Eu tenho plena convicção de que o governador Ratinho Jr jamais fará isso e qualquer que seja o resultado da eleição ele vai ter um relacionamento pensando no bem da cidade e da população de Curitiba. Não vejo dificuldade nenhuma no relacionamento com o governo estadual e federal. Teremos um relacionamento para o bem da cidade.
BP – A segurança, pela Constituição, é uma responsabilidade do governo do Estado. O que a prefeitura pode fazer nessa área?
João Guilherme – A Guarda Municipal, hoje em dia, tem poder de polícia. Ela pode ser aparelhada e pode ter essa possibilidade de fazer o combate à criminalidade real. Esse discurso de que a segurança é responsabilidade só do Estado não funciona. Mas também temos que entender que a Guarda Municipal é o ente da polícia mais próximo do cidadão. Não podemos perder essa característica da Guarda de fazer um trabalho muito mais preventivo, de aproximação do que de combate à criminalidade propriamente dita. Mas temos que acabar com as dificuldades que eles têm hoje em dia. Os guardas municipais não têm uma central de informação. Se ele vai fazer uma busca, por exemplo, de uma placa de um veículo, ele tem que pedir um favor para a Polícia Militar ou outros órgãos. Ela tem que ser municiada de tecnologia, de equipamentos para que possa exercer sua função.
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