Empresário do setor têxtil, Flávio Roscoe Nogueira assumiu a presidência da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) em maio de 2018, em plena greve dos caminhoneiros, a maior já ocorrida no Brasil.
O presidente da entidade ainda enfrentou à frente do setor produtivo mineiro o maior desastre com barragens de mineração da história recente, ocorrido na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em janeiro do ano passado.
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Flávio Roscoe aponta um impacto devastador do Covid-19 nas indústrias mineiras | Crédito: Sebastião Jacinto Júnior - Fiemg |
Este ano também começou difícil, embora o dirigente tenha encerrado 2019 com boas perspectivas para a indústria nacional e a mineira em 2020. No entanto, em janeiro, as chuvas vieram em volume recorde e causaram grandes danos a diversas regiões de Minas Gerais.
E agora o Covid-19, que, mesmo o Estado sendo destaque no cenário nacional em função dos índices que indicam um maior controle da doença, parece cada vez mais se aproximar do ápice e causa perdas irreparáveis também à economia.
Porém, o balanço do industrial, que está há dois anos à frente da Federação, é positivo. Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, Roscoe, que no discurso de posse falou sobre a importância das reformas estruturais e citou a melhoria no ambiente de negócios como um dos grandes desafios da gestão, destacou a atuação ativa da Fiemg nestas pautas e avaliou os impactos da pandemia como oportunidade para a recuperação da força da indústria nacional e a menor dependência de mercados estrangeiros, como o chinês.
Qual o principal impacto da pandemia para a indústria mineira?
E agora o Covid-19, que, mesmo o Estado sendo destaque no cenário nacional em função dos índices que indicam um maior controle da doença, parece cada vez mais se aproximar do ápice e causa perdas irreparáveis também à economia.
Porém, o balanço do industrial, que está há dois anos à frente da Federação, é positivo. Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, Roscoe, que no discurso de posse falou sobre a importância das reformas estruturais e citou a melhoria no ambiente de negócios como um dos grandes desafios da gestão, destacou a atuação ativa da Fiemg nestas pautas e avaliou os impactos da pandemia como oportunidade para a recuperação da força da indústria nacional e a menor dependência de mercados estrangeiros, como o chinês.
Qual o principal impacto da pandemia para a indústria mineira?
O impacto é devastador. Aquelas empresas que não estavam bem não vão sobreviver; outras, que estavam com situação razoável, mas com ritmo lento de produção ou com atuação em segmentos mais afetados, também terão dificuldades; e há ainda aquelas que pertencem a setores que serão praticamente dizimados, porque tiveram a atuação completamente suspensa. Trata-se da capacidade de resiliência de cada negócio.
A indústria, especificamente, está um pouco mais preservada nesta crise, graças à dinâmica do setor. Aquelas atividades que dependem do comércio físico estão sendo mais impactadas, mas não tanto quanto a parte de prestação de serviços, como turismo e eventos, que realmente estão mais prejudicados.
A limitação do funcionamento do comércio nas cidades mineiras prejudica o setor?
Felizmente, em Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Novo) teve sensibilidade e decretou a essencialidade do setor, permitindo a manutenção dos segmentos que abastecem o comércio. Foi uma decisão acertada e que fez com que a crise fosse menor do que seria num primeiro momento. Sem contar que viver sem a indústria é impossível, pois estamos falando de coisas essenciais como água, energia e tantos outros produtos.
Na mineração, por exemplo, sem cal não tem água tratada; sem minério não há adubo; sem plástico não tem embalagem; sem a indústria alimentícia não há o que vender nos supermercados; e sem combustível não se chega a lugar nenhum. O setor industrial é muito relevante e, de fato, essencial para nossa sobrevivência.
E no caso de Belo Horizonte, onde a prefeitura adotou um plano próprio e a flexibilização foi suspensa nos últimos dias?
Desde o início falamos que estava havendo excesso. A prova maior foi agora com esse recuo, pois já ficamos 100 dias fechados e o momento certo de fechar seria agora. Ou seja, esta política está decretando a morte de segmentos econômicos inteiros. Estamos há 100 dias fechados de maneira indevida.
Na avaliação da Fiemg, o que seria correto?
Sempre defendemos e apoiamos os trabalhos de infraestrutura, seja por meio da construção de hospitais, produção de respiradores, máscaras e produtos de higiene, como álcool em gel. Em termos de estrutura, doamos para o Estado praticamente três hospitais: o Mater Dei Betim-Contagem, boa parte do Hospital de Campanha montado no Expominas e a ampliação dos leitos no Instituto Mário Penna.
Além disso, vamos doar 1.500 respiradores, que só aguardam a aprovação da Anvisa. Estamos fazendo um amplo trabalho e acreditamos que era necessário ampla testagem (compramos 300 mil testes), uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social. O lockdown apenas para o grupo de risco. Vamos pagar pelos erros dos nossos governantes.
Vai levar muito tempo para a economia se recuperar?
Não tem uma fórmula. Vai depender de cada setor. Cada segmento está sofrendo de uma maneira e vai ter um tempo de recuperação distinto. Alguns vão recuperar em meses, outros estão crescendo até mesmo durante a crise, e outros levarão décadas para se recompor.
O setor industrial passará por mudanças profundas no período pós-pandemia?
A indústria vai, invariavelmente, começar a acessar diretamente o consumidor, pelos mecanismos digitais. Acredito que esta será a grande transformação deixada pela pandemia. Claro que nem todo segmento industrial poderá fazer isso, como uma fábrica de aço, por exemplo.
Mas aqueles que produzem itens acabados tendem a acessar o consumidor de maneira direta. E as próprias indústrias que fabricam produtos intermediários também vão ter uma maior presença digital. É uma mudança que veio para ficar.
Há muitos anos se fala sobre a desindustrialização brasileira. Há reversão?
Este é um processo que ocorre em função do custo Brasil e que vem se aprofundando nos últimos anos. Mas eu acho que a pandemia pode ser, justamente, o ponto de virada, pois as pessoas viram o quão prejudicial é depender do estrangeiro e a importância da visão estratégica da produção local.
Se não tivéssemos indústrias que se reverteram para produzir respiradores, remédios, máscaras e álcool em gel a situação seria ainda pior. Estamos nos virando com o que temos. O pouco que chegou de produtos importados veio a preço de ouro e com problema. Precisamos valorizar a produção local. O que estamos vivendo alerta, mais uma vez, para o fato de que o País não pode penalizar quem produz aqui. É hora de resgatar o valor e a importância da nossa indústria.
E também de depender menos da China?
Sim e não apenas o Brasil. Esse assunto foi trazido à tona pela crise imposta pela pandemia e vai estar na geopolítica daqui para frente, pois vários países viram que estavam encalacrados pelo gigante asiático e sem opção. A indústria brasileira ainda tinha um tecido relativamente robusto, por isso conseguiu reagir a muitos desafios colocados.
Como você vê a necessidade de diversificação econômica de Minas Gerais e qual a contribuição da Fiemg para o assunto?
A diversificação econômica é vital. A Fiemg investe pesado em ciência e tecnologia e programas que integrem indústrias a startups, culminando em um amplo planejamento tecnológico para o Estado. Acreditamos que a tecnologia é o caminho para agregar valor e desenvolver novos segmentos e com isso, diversificar a matriz econômica mineira.
Estudo da Fundação João Pinheiro aponta que os investimentos de US$ 900 milhões anunciados para Minas serão voltados apenas para ampliação e modernização de empreendimentos. Por que o Estado não atrai novos projetos?
Isso está relacionado ao ambiente de negócios e temos trabalhado em parceria o com governo do Estado em vistas a melhorar essa atratividade. De fato, é muito complexo, mas o governador tem feito um grande esforço e tem conseguido bons resultados. Inclusive, é um dos desafios da nossa gestão. Fizemos um trabalho nos últimos anos na área ambiental, por exemplo, buscando uma maior eficiência por parte do Estado, e já foi feita toda a digitalização dos processos. Temos conseguido avançar.
Quais as principais ações de sua gestão na Fiemg?
Logo que chegamos reestruturamos a casa com o objetivo de aumentar a produtividade e os atendimentos prestados à sociedade, visando a geração de resultados. No aspecto interno, procuramos aumentar a prestação de serviços, reduzir os custos e estruturas. Alcançamos êxito, construímos resultados operacionais sólidos e aumentamos os volumes de prestação de serviço para a sociedade.
Ou seja, estamos fazendo mais com menos. Do ponto de vista externo, aumentamos as ações de defesas de interesse da indústria, criamos áreas para melhorar o atendimento e fortalecemos a interlocução com os governos e os legislativos. Também trabalhamos em defesa dos interesses da sociedade.
E os principais desafios?
Foram dois anos bastante desafiadores. Assumimos com greve dos caminhoneiros, depois tivemos o acidente de Brumadinho, enchentes no início deste ano e agora a pandemia. Ainda enfrentamos o corte do Sistema S, que nos impactou muito. Mas sempre defendendo a indústria e colocando a Fiemg mais próxima da sociedade. Ainda assim, neste período conseguimos aumentar nossa representatividade, o número de associados e o volume de prestação de serviços.
A Fiemg tem adotado cada vez mais iniciativas em prol de toda a sociedade. É uma mudança de postura da entidade?
É uma mudança bastante proativa. E é claro que o apoio que a gente recebe dos industriais vem da credibilidade da instituição. Destaco aqui o ativismo dos industriais nos últimos meses, porque eles também estão em crise e, ainda assim, estão ajudando a sociedade. Temos, conseguido, de fato, ganhos para a sociedade em geral.
Fizemos a defesa da Medida Provisória 936, que em tese impede o desemprego, pela junção de esforços do Estado, da empresa e do trabalhador. Uma iniciativa que defendemos junto ao Congresso e ao governo e que já salvou mais de 9 milhões de empregos em todo o País e que vai possibilitar uma retomada mais fácil da economia.
Há outros exemplos?
Temos várias ações repercutindo, inclusive, nacionalmente. A Fiemg foi a primeira a apoiar a reforma da Previdência, fazendo campanha, expondo o nome da entidade, investindo recursos e capital político. Temos defendido todas as medidas que afetem diretamente ou não o setor industrial, porque são de interesse da sociedade. E a Fiemg também não tem medo de se posicionar. Essa é outra característica marcante da nossa gestão. Nos posicionamos antes e, em alguns momentos, somos até incompreendidos. Mas depois as pessoas percebem que era o melhor caminho.
Foi o caso na greve dos caminhoneiros, em que fomos os primeiros a alertar para o desabastecimento do País; depois com a barragem da Vale em Brumadinho, em que nos solidarizamos com as vítimas, mas também nos preocupamos com a demonização do setor, que é uma atividade fundamental para o Estado. E agora a mesma coisa na pandemia. Não nos importamos em defender que não se trata de uma questão de economia versus saúde, porque cabe a nós, como liderança, assumir o ônus e não falar apenas o que querem ouvir, mas aquilo que entendemos como certo.
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